O Povo palestiniano decidiu proceder ao que chama “A Grande Marcha de Regresso”, para durar durante cerca de seis semanas, ou seja, até 15 de maio, altura do 70.º aniversário do Estado de Israel.
Na sequência de tal decisão, no passado dia 30 de março (sexta-feira santa para os cristãos), ocorreram confrontos entre manifestantes palestinianos e o exército israelita, registados na fronteira de Gaza com Israel, que fizeram pelo menos 17 mortos e mais de mil feridos entre os manifestantes palestinianos. Trata-se do dia mais sangrento desde a guerra de 2014, em Gaza.
A ONU e a União Europeia apressaram-se a pedir uma investigação independente e transparente aos acontecimentos, apelo reiterado por Organizações de Defesa dos Direitos Humanos. Os EUA vetaram tal proposta no Conselho de Segurança da ONU e o Governo israelita rejeitou os apelos internacionais para a referida investigação independente.
A Grande Marcha de Regresso pretende significar o regresso simbólico dos refugiados palestinianos à sua Pátria, expulsos dos territórios ocupados pelos israelitas.
Na verdade, em resultado do conflito israelo-árabe de 1948, cerca de 750.000 árabes palestinianos fugiram para as áreas controladas pelos árabes na Margem Ocidental, em Gaza, na Jordânia e na Siria.
A situação difícil destes refugiados, levou a Assembleia Geral da ONU a criar uma organização especial, em 1949, para lhes prestar assistência - O Organismo de Obras Públicas e Socorro aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA).
O UNRWA passou a prestar serviços aos palestinianos necessitados que tinham perdido as suas casas e os seus meios de subsistência, em consequência da guerra. Tal assistência estendeu-se, desde então, aos descendentes dos refugiados de 1948, que permanecem na área e, na medida do possível, aos que foram afetados pela hostilidade de 1967 e dos anos posteriores.
Excetuando o apoio unilataral dos EUA, Israel caminhou para um amplo isolamento internacional. Esta situação crítica foi acentuada pela colonização, inicialmente, lenta, dos territórios ocupados, mas que aumentou consideravelmente após a maioria parlamentar de direita (Likud), liderada pelo então primeiro ministro Menahem Begin.
Em 1981, Israel intensifica a construção de colonatos no territórios ocupados, continuando a seguir ainda hoje essa política, facto que tem dificultado uma verdadeira reconciliação com os países árabes.
Será fundamental para a paz que o exército israelita retire de todos os territórios ocupados, como aconteceu no Líbano, em 2000, depois de duas décadas de ocupação e permita o regresso de todos os pelestinianos à sua Pátria, permitindo um Estado autónomo e viável (não fragmentado). Mas, infelizmente, o Estado judaico tem preferido permanecer mais preso ao passado, em vez de enfrentar o presente e de se abrir ao futuro.
É importante recordar a opinião de quem é profundo conhecedor da questão israelo-palestiniana, conhecimento esse aquirido em sucessivas visitas de estudo que fez ao Médio Oriente. Refiro-me ao ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, ao afirmar:
“Não haverá uma paz substantiva e permanente para nenhum povo nesta região tão conturbada enquanto Israel continuar a violar as resoluções das Nações Unidas, a contrariar a política oficial americana e o Roteiro Internacional para a Paz, ocupando terra que pertence aos Árabes e oprimindo os Palestinianos. E os líderes governamentais dos EUA devem estar na linha da frente para alcançar o objetivo, há muito adiado, de um acordo justo que possa ser honrado e cumprido por ambas as partes“. (cf. PALESTINA - PAZ, SIM. APARTHEID, NÃO)
Até à eleição de Donald Trump, a comunidade internacional sabia – e era o que deles se esperava – que os presidentes americanos exerciam a sua melhor influência para obter a paz no Médio Oriente, de uma forma objetiva e sem preconceitos, ou melhor, sabia-se que os presidentes dos EUA eram participantes em quem se podia confiar: imparciais, consequentes, firmes e mediadores sinceros. Incompreensivelmente, esta tradição foi quebrada com o atual presidente, além do mais, ao transferir a embaixada para Jerusalém.
Deste modo, a administração americana perdeu toda a credibilidade perante a comunidade internacional, já que não vê no seu presidente um mediador sincero e honesto.
As sucessivas demissões dos seus colaboradores mais próximos são suficientemente eloquentes. Resta esperar que o povo americano, oportunamente, ponha fim a tanta mediocridade e a esta fase negra da sua história.
Autor: Narciso Machado