Acabei de ler o artigo “A Sageza” (Diário do Minho-04/06/18), do erudito prof. Paulo Fafe. Não me esquivo de evidenciar os seus dotes personalísticos (mentais, afetivos e emocionais) no sentido de darem uma paulada, uma facada, em todo aquele exército promotor da corrupção através dos seus (talvez impensados), mas acolhedores e prometedores comportamentos.
O exército a que o distinto articulista se refere: “os banqueiros a desviarem, para si, as magras poupanças que os clientes depositaram; os futebolistas a viciarem as apostas; os ciclistas, a doparem-se para atingirem as vitórias sonhadas; os políticos a ganharem, indevidamente ajudas de custo; os ex-ministros com as suas influências; a justiça com capciosas mentiras em Tribunal; os padres, com o rosário entre os dedos, a traírem os seus sagrados votos; professores vendendo, pela calada, provas de exame…” é longo e perturbador, mas infelizmente é real e, a cada dia, vai engrossando…
Todos estes factos são verídicos testemunhos de comportamentos corruptos, geridos, existencialmente, por roturas, isolamentos, separações, incoerências e incongruências. São comportamentos que se impõem pelo seu sentido individual, subjetivo e relativista.
O que estes comportamentos ignoram, a fim de darem uma machadada no espírito da corrupção, é que toda a nossa pessoa tem de descobrir, em si, a sua fonte de autonomia e liberdade e sua fonte do dever. Esta fonte, naturalmente, não é outra senão o ôntico ser da natureza humana, na sua constituição uno, transcendental e relacional, criado por Deus à sua imagem e semelhança.
A sua constituição são os corredores, através dos quais devem, imperativamente, deslizar, progressivamente, todas as nossas estruturas existenciais, tais como as do conhecimento, as do sentimento, as comportamentais, emocionais, motivacionais. Estas estruturas levantam-se, enganosamente, em função da institucionalização do poder, do prestígio e do domínio, como já tantas vezes foi afirmado.
Na convergência de todos estes corredores fosforeia o humanismo transcendental, o verdadeiro oceano de águas límpidas e puras, onde mergulham os alegres anjos de Deus, os santos, que ao longo da sua vida se tornaram virtuosos através das suas superações.
Que os que trilham os aliciantes mas pedregosos caminhos da corrupção não se resignem a tal caminhada mas possam, também, superar tão tortuosas veredas.
Nota da Direção: Este artigo foi enviado para o Diário do Minho pelos familiares do Dr. Benjamim Araújo antes do seu falecimento. Publicamo-lo com autorização da família.
Autor: Benjamim Araújo
Os factos falam por si
DM
8 agosto 2018