«Os extremos tocam-se» – costumava dizer o meu primeiro professor de Filosofia.
Na vida quotidiana, na escola, na profissão, nas artes, nas ciências e – sobretudo – na política, os partidários do «oito» dizem coisas diametralmente diferentes dos apaniguados do «oitenta» mas fazem exactamente as mesmas coisas. E vice-versa. São igualmente dogmáticos, autocráticos, prepotentes, totalitários e quase sempre narcísicos. Numa palavra: ditatoriais.
Isto é: por muito distantes que pareçam na teoria, no comportamento prático são iguais. Ao fechar de um percurso circular, os extremos tocam-se.
As doutrinas fascistas e nazis (tão diferentes entre si, ao contrário do que correntemente se julga) e as diametralmente opostas marxistas-leninistas quando saíram dos livros para a organização política dos Estados, geraram sociedades iguais: Estado endeusado e absoluto, servido e garantido por polícia política e cidadãos escravos para a quem tudo o que não lhes era proibido era obrigatório. Qualquer dos modelos é pior do que o outro. Entre eles só o diabo será capaz de escolher.
O primeiro destes extremos morreu no fim da segunda guerra mundial, em 1945. O segundo teve uma agonia mais longa (e, por isso, mais penosa) e só morreria em 1989 com a queda do muro de Berlim. Na Europa, ficaram ainda uns restos arqueológicos que tiveram destinos diferentes.
Uns quiserem modernizar-se, isto é, democratizar-se, e suicidaram-se. Fascismo democrático ou comunismo democrático contêm uma contradição nos termos que conduz à morte. Outros repescaram o bigode e os óculos do velho Trotsky com que se mascaram nas suas actividades elegantes de caviar e whisky. Outros ainda, vão mirrando, heroicamente, como velhas relíquias do estalinismo.
O que é curioso – e misterioso – é que estes restos, recauchutados ou em estado puro, não incomodam ninguém e estão mesmo socialmente estabelecidos. Ao passo que um totalitarismo de direita, hipoteticamente renascido das cinzas, traga tanta gente (hipocritamente) assustada.
Os extremismos da chamada «esquerda» são o «caldo de cultura» ideal para germinar os extremismos da chamada «direita». Mas, pelo menos entre nós, não se vêem os produtos de tal «caldo». Mas o próprio «caldo» vê-se. Está na Assembleia da República, onde o outro extremismo dificilmente algum dia estará.
O mistério está na passividade com que se aceita uma extrema-esquerda real em contraste com a actividade com que se exorcisa uma virtual extrema- direita. Como se algum deles fosse melhor do que o outro!!!
Por mim, exorciso os dois com igual devoção.
Nota: por decisão do autor, este texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico.
Autor: M. Moura Pacheco