A essência da educação implica uma gama de objetivos e de parâmetros que exigem muitos estudos para a sua adequada compreensão. Esta complexidade reivindica muita atenção por parte de todos os agentes na sua definição e implementação.
Assim sendo, nunca poderia haver lugar a decisões tão levianas como as que vemos emanar dos gabinetes dos grandes responsáveis. Os sistemas educativos, em vez de respeitarem as caraterísticas integradoras da natureza humana, apenas encarnam o cerne da ideologia dos seus mentores.
É por isso que os respetivos sistemas educativos nunca estabilizam, pois estão muito dependentes da vontade e dos caprichos dos responsáveis de cada governo que vão impondo as suas próprias ideias, por mais distorcidas e aberrantes que sejam. Quando aparecem certos fenómenos estatísticos que afrontam a sua sensibilidade política, logo levantam a voz para chispar as suas farpas matizadas de um cinismo acintoso. Na verdade, quando a sua ideologia lhes parece ser beliscada, aprontam imediatamente as armas para a defender com pertinácia e perrice.
Assim, quando foi publicado, há dias, o Ranking das escolas (pese embora as suas fragilidades), um dos grandes responsáveis pela educação em Portugal, aproveitou a ocasião para salientar a sua visão enviesada e retorcida sobre o modelo de ensino não público. A política de um país laico e neutro descura algumas vertentes indispensáveis a uma educação integral. Os grandes pedagogos defendem que a educação cívica e moral é um elemento integrante da formação a que todo o ser humano tem direito.
A dimensão ética não é um subproduto da instrução, já que ela tem o seu espaço próprio de experiências e de desenvolvimento de competências e de atitudes únicas, indispensáveis e insubstituíveis. Qualquer sistema de ensino deve, pois, dar-lhe a devida importância, promovendo, no currículo, tempos específicos para esta dimensão, para além de o fazer também de uma forma interdisciplinar. A vertente cívico-ética é demasiado relevante para ser secundarizada ou ostracizada, uma vez que contém valores que integram a essência das relações humanas.
É consensual no meio dos peritos que, sem a implementação desta dimensão, a escola não desempenha nem cumpre adequadamente as funções educativas exigidas pela natureza do ser humano. A sociedade, enquanto instância formadora, apresenta uma configuração social, económica e cultural que se caracteriza pela constante mutação científica, tecnológica, política e axiológica, mas, infelizmente, onde está patente, muitas vezes, uma crise de valores.
Os próprios Meios de Comunicação Social, com a sua pseudopreocupação de respeito pela neutralidade ou independência de expressão, apresentam conteúdos e programas que ferem os direitos humanos mais básicos, violando, não raras vezes, os seus princípios deontológicos. A tudo isto acresce que a estrutura familiar vem sofrendo alterações profundas devido a condicionalismos culturais que a arrastam para uma crise crónica, enviesando o seu espaço como lugar de transmissão de valores universais e perenes.
Assim, a escola tem uma tarefa essencial na formação dos alunos já que é uma instituição privilegiada para inculcar os verdadeiros valores. Por isso, a escola não pode escamotear a realidade e manter-se neutra em relação a questões de cariz ético-social porque, dessa forma, não promove o crescimento integral do indivíduo. Ela tem uma função complementar às outras instâncias educativas, no sentido de promover nos discentes o exercício da cidadania cívica.
A ética não é mais do que a reflexão profunda e lógica sobre nós próprios, sobre os outros e sobre o verdadeiro sentido da vida. Só uma escola de qualidade para todos pode incentivar a formação de cidadãos autenticamente responsáveis e livres.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes