"Olhe que não, olhe que não" era a frase que Cunhal inscrevia, em 1975, mesmo sem se aperceber, na história política nacional.
Isto a propósito do Congresso do PCP e a intransigência, quase birra, de o realizar este mês, apesar das adaptações em pleno Estado de Emergência, do cumprimento das normas da Direção-Geral de Saúde e da legalidade. A vontade (política) de realizar o Congresso, num período de exceção, mesmo tendo votado contra a declaração do Estado de Emergência, na melhor das interpretações evidencia coerência, mas não lhe confere a excecionalidade de uma quase primazia sobre a lei do próprio Estado de Emergência. Acima da legitimidade política que o PCP quer renovar nos seus órgãos internos, do debate e da força que a realização de um Congresso confere sempre a um partido de massas – entenda-se, grande – há uma questão de princípio que permite, por exemplo, distinguir um partido grande de um grande partido.
Eis o exemplo que o PCP dá à sociedade. Depois de ter votado o Orçamento de Estado e feito a escolha do seu candidato presidencial, não há justificação para esta urgência em manter a sua agenda, cuja normalidade prevê a realização do Congresso, mas que neste contexto se torna tão dispensável quanto incompreensível.
Os fundamentalismos não contribuem para a democracia, só alimentam outros radicalismos e intolerâncias, que fazem desta rigidez instalada o seu melhor proveito.
Nesta fase, o Congresso do Partido Comunista, partido com forte implantação no sistema – e bem, porque legítima – é o melhor argumento dos pequenos partidos e movimentos, como o Chega.
É mesmo! E se algum comunista tiver dúvidas, diremos "olhe que sim, olhe que sim".
Autor: João Pacheco