Ainda a respirar o perfume celestial das cerimónias da Semana Santa em Braga, veio-nos à mente a relevância que o turismo religioso tem, não só no aprofundamento da fé dos crentes, mas também no fomento da economia das regiões de incidência e dos respetivos países. Ele contém, como sabemos, uma especificidade profunda que é a fé das pessoas crentes e a busca da espiritualidade. Está, pois, ligado ao calendário de eventos religiosos que acontecem em locais próprios, aonde acorrem, periodicamente, grandes fluxos de peregrinos, movidos pelas suas crenças pessoais ou coletivas. No entanto, muitos peregrinos e viajantes são também atraídos por motivos de curiosidade artística ou de encanto pela beleza do valioso património que aí se encontra. Muitos dos edifícios existentes nos locais onde estão inseridos também são utilizados para eventos culturais, concentrações, encontros, espetáculos, festas e outras atividades sobre temáticas variadas. Também há muitos grupos que os usam como locais de descanso ou de férias. Este fenómeno religioso contribuiu, ao longo dos tempos, para a edificação de templos ou de monumentos, da construção de infraestruturas, de aglomerados populacionais, de lojas e de centros comerciais, da restauração e hotelaria e de muitas outras estruturas exigidas pelo desenvolvimento destes eventos.
Todo este contexto contribuiu e cada vez mais contribui para um crescimento relevante da economia, tanto local como nacional. Trata-se de um fenómeno turístico que provoca um grande impacto no PIB ou no rendimento do país. De referir ainda que, para além das grandes movimentações de massas populares em datas fixas, acorrem a esses lugares todos os dias grupos organizados, vindos de diversas regiões e de vários países, originando um movimento constante de pessoas.
Todas estas deslocações de peregrinos e de outros visitantes implicam enormes gastos e aplicações de grandes quantidades de dinheiro, quer nos locais de peregrinação, quer nos meios de deslocação, bem como durante o trajeto percorrido. Estas chorudas quantias de dinheiro exigem a criação, muito diversificada, de milhares e milhares de postos de trabalho que, deste modo, estão garantidos na sua expressiva sustentabilidade.
Neste cenário, facilmente se conclui que os cofres do Estado estão a ser abastecidos constantemente por muitos milhares de euros em impostos, diretos e indiretos, que engordam, continua e garantidamente, as receitas do Estado. Que seria do PIB, se não fossem estas permanentes e colossais receitas? É, pois, muito estranha a postura anticlerical, primária e cínica, de muitos políticos que só se sentem bem a vilipendiar a religiosidade de muitos contribuintes. E o mais grave é que tais políticos também usufruem desse chorudo bolo vindo dos crentes e que é composto pelos referidos impostos (e não só!). Onde está a sua coerência? Defendem os postos de trabalho, a sua criação e sustentabilidade, mas são ferozes e sarcásticos críticos de muitas atividades que os asseguram, como é o caso do turismo religioso. São paladinos da democracia plural e tolerante, mas aproveitam todas as oportunidades para as suas farpas mordazes e satíricas a tudo o que cheire a religião, a fé e a crenças.
Que seria da grande parte do património arquitetónico, cultural, monumental, artístico, museológico e de outras manifestações de cariz religioso, se não fossem as ofertas, os contributos e a ação dos milhões de crentes que nos antecederam ao longo dos séculos? Acresce ainda que muito desse legado, desde que passou para as mãos do Estado, encontra-se num estado de degradação confrangedor. Sejamos justos e coerentes.
Para certos indivíduos custa muito a convivência sadia, tolerante e plural entre as pessoas crentes e não crentes. A verdadeira democracia implica um respeito mútuo entre todos.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes
O turismo religioso terá o devido reconhecimento por parte do poder político?
DM
5 abril 2018