Uma das caraterísticas do ser humano consiste na busca da verdade, pois isso faz parte da sua essência. Qualquer pessoa, para ser coerente com a sua natureza, só viverá em tranquilidade se amar e conviver com a verdade. Aqui não há lugar para qualquer subterfúgio que possa desviar-nos deste estado natural das coisas. Em qualquer nível de investigação sobre o tema, não há cabimento para verdades truncadas nem verdades meramente subjetivas. Onde faltar uma parte de verdade, esta perde logo a sua essência.
A verdade é uma conformidade absoluta com a realidade e, por isso, existe em todos os tempos e em todos os lugares. A verdade só se encontra na justiça, na honestidade, na sinceridade, na equidade e na honradez de caráter. A desconformidade com estes princípios implica automaticamente a mentira. A verdade nunca pode conviver com a deslealdade nem com o puro relativismo ou qualquer tipo de subjetivismo. A veracidade dos factos também não coabita com atitudes incoerentes que afetam muitas pessoas.
Elas revelam uma duplicidade de caráter e uma visão enviesada das leis; para os outros, defendem umas ideias e uma interpretação dos factos, enquanto para elas próprias, apenas fazem a apologia daquilo que satisfaça os seus interesses pessoais, mesmo que isso vá no sentido oposto àquelas doutrinas por que pugnam socialmente. Parece que esta é também a receita de muitos partidos políticos que, assim, vão aumentando cada vez mais a sua desacreditação perante os eleitores.
Apregoam as suas ideias com slogans cheios de boas intenções e de teorias nobilíssimas que, por vezes, até são escritas (abusivamente) nas fachadas dos prédios dos outros, mas nos seus, mesmo que enfermando das mesmas maleitas que vislumbram nos vizinhos, nada anotam porque tais princípios éticos não se aplicam a eles. Sempre houve casos de incoerência ideológica. No entanto, as situações de incongruência no nosso tempo são mais refinadas!
E então as justificações dadas pelos próprios ou pelos seus superiores são tão descabidas que atingem foros de deprimência e de aviltamento. Mas se essas contradições acontecerem aos outros, aí revelam uma intolerância radical. Cai logo “o Carmo e a Trindade.”
Escandalosa discrepância! A coerência não mora nas forças políticas deste jaez. São estas e outras contradições dos partidos políticos que vão permitindo que os habilidosos se vão safando e enriquecendo cada vez mais, enquanto os pobres continuam numa sobrevivência inquietante e sofredora.
A sociedade tem muito que refletir e o povo deve abrir mais os olhos, deixando de ser tão ingénuo quando lhe acenam com promessas longânimes durante os períodos pré-eleitorais. Há que duvidar de campanhas muito generosas que, por si mesmas, já cheiram a esturro e a incumprimento. É que muitas dessas promessas dos políticos já os viciaram tanto que se tornaram mentirosos compulsivos. E o povo vai continuar com as suas angústias e com as suas necessidades básicas por satisfazer.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes