A mentalidade ambiental, as ciclovias e a zona pedonal, bem como o Parque Desportivo da Rodovia que abraçam o Rio Este, aumentaram as exigências por parte de muitos bracarenses quanto ao cuidado a ter com o rio que o poder municipal tem vindo a incentivar e acompanhar.
Só para se ter uma ideia do estado do Rio Este no passado, basta observar o resultado de uma operação de limpeza no ano de 2016, em vários pontos do seu caudal, onde foram retirados mais de 1300 toneladas de inertes, em lugares onde há mais de 30 anos não tinha existido anteriormente qualquer ação limpeza.
Logo em 2014 ou 2015, o município conseguiu determinar a origem de mais de 70 descargas originárias de tinturarias, prédios inteiros de habitação, restaurantes, até de uma lavandaria clínica que lavava roupa com sangue com o uso de produtos químicos que iriam parar às aguas do nosso rio.
Estes responsáveis pela contaminação da água nem se apercebiam do mal que causavam porque efetuavam essas descargas através de condutas antigas cujas águas contaminadas iriam para ao rio e, logo que foram intimados pelo município, atuaram para lhes por cobro, não tendo sequer ter havido necessidade de lhes impor coimas.
No entanto o grande problema do rio Este – e este facto é desconhecido da maior parte dos bracarenses – tem a ver com um conjunto infindável de condutas subterrâneas com centenas e centenas de quilómetros, tornando difícil, senão mesmo quase impossível, determinar, com precisão ou até aproximadamente, a origem de muitas descargas quer estas sejam propositadas, quer sejam acidentais.
A somar a isto, há milhares de sarjetas que vão dar ao rio estando, na grande maioria dos casos, a origem do dano a muitos quilómetros do local onde é detetada o início da contaminação das suas águas.
Por outro lado, há uma grande parte de águas pluviais que vão dar ao rio, quer passem ou não por locais contaminados no seu trajeto, assim como outras águas, que fazem o mesmo trajeto e são acompanhadas de agentes poluidores.
Qualquer cidadão, morador mais ou menos perto da bacia do rio, por mais consciente que seja do ponto de vista ambiental poderá ser – inadvertidamente – seu agente poluidor. É o caso de alguém que lave no tanque ou na torneira fora de casa pincéis de tinta ou recipientes que usou para sulfatar, algo que contenha produtos químicos, assim muitas outras diversas situações suscetíveis de poluir o nosso rio, sem a mínima ideia, por parte do seu autor, do dano que está a provocar.
A maior prova disso aconteceu recentemente: de repente, no final da semana passada o rio apareceu com cores brancas de tinta. Imediatamente se pensou que alguém teria descarregado algum ou alguns agente poluidores. No entanto o que aconteceu foi o resultado de um acidente ocorrido na estrada para os lado de S. Pedro d’Este com um camião que transportava tinta branca. Após o acidente os bombeiros foram lavar a via com água em vez de usar terra para tirar a tinta. Assim a água suja com tinta branca foi dar ao rio e produziu aquele resultado durante bastante tempo. Ainda bem que era tinta de água e o impacto na fauna e na flora foi inferior ao que se pensou no início.
A Câmara Municipal, desde 2014, fez cerca de 1400 análises de análises da qualidade da água em 13 pontos onde detetou mais suscetibilidade de contaminação. Solicitou também à Agência Portuguesa do Ambiente – entidade que detém o domínio público hídrico – que efetue um trabalho de cadastramento de toda a interligação existente.
Contrariamente a que muita gente pensa, a Câmara Municipal não tem competências de investigação sobre os poluidores do rio, sendo essa responsabilidade da SEPNA na zonas rural e da PSP na zona urbana, embora o município auxilie, quer pelas denúncias, quer por eventuais coimas a aplicar, quer pela intervenção de técnicos municipais de águas pluviais que se deslocam rapidamente ao local sempre que haja algum alarme.
A limpeza do rio, as campanhas municipais de sensibilização efetuadas na nossa cidade, a diminuição do número de cargas, têm contribuído para que tenham aparecido e mantido lontras, garças, pássaros como os chamados guarda-rios, variados anfíbios e cada vez mais flora. Isso é sinal de melhoria da qualidade da água e de um maior aumento da cadeia alimentar, inimagináveis há meia dúzia de anos atrás.
Sem uma obra estrutural na bacia do Rio Este – que envolverá muitos milhões de euros – não poderemos eliminar totalmente atentados ao seu ambiente. Até lá há que continuar o caminho traçado, com as melhorias visíveis e com os poderes públicos e a população vigilante.
Embora por vezes, surjam contaminações que parece que deitam tudo a perder, o nosso Rio Este tem demonstrado uma capacidade de recuperação fabulosa, como a que incentivando a continuar a olhar e a cuidar dele, sem desistir.
Autor: Joaquim Barbosa