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O muro, o soneto e os “tremeliques”

Embora esse acontecimento nada tenha a ver com aquele que ocorreu na freguesia de Gualtar, em Braga, em 23 de abril de 2014, a não ser o facto de se tratar de um muro, apenas resolvi introduzi-lo aqui para falar sobre ele bem como de outros muros que existam ou, eventualmente, possam vir a existir por incúria de quem decide.

No entanto, também serve para prevenir os cidadãos dos perigos que um simples muro pode causar às pessoas – e à própria democracia – quando a justiça resolve favorecer o poder, ou branquear a responsabilidade daqueles que deveriam zelar pelo espaço público e não o fazem. Daí que na morte dos três jovens estudantes da Universidade do Minho, não tivessem sido encontrados os culpados, ainda que eu condene as praxes.

Ora, quem tem uma simples casa – mandada construir – sabe bem a vistoria a que é sujeita para obter a respetiva licença de habitabilidade. E lembrar-se-á, também, de que um dos vários requisitos exigidos pelos fiscais camarários, para a sua obtenção, prende-se com o facto de a caixa do correio ter de se situar dentro do próprio terreno da habitação, caso contrário é negada. Por isso, naquele caso, como é que os referidos técnicos, ou outros, permitiram a colocação das caixas de correio no outro lado da rua e em terreno estranho aos prédios? E porque serão, em outras vezes, tão afoitos a processar e multar o desgraçado que resolveu ter uns galináceos, dentro de uma rede com duas tábuas no quintal, pelo qual paga IMI, quando em Gualtar se tenham posto a assobiar para o ar? 

O que eu acho é que tanto o tribunal, a juíza que julgou este caso, bem como a CMB, ficaram ofuscados na fotografia. Isto por não ter ficado provado que o muro caiu por ação dos jovens que para ele subiram, mas porque nele não existiam as reais fundações. Ou não tivesse sido alertada para o perigo de iminente derrocada. Mas será que alguém se importa com os vidros e telhas que caem, periodicamente, dos prédios em ruínas existentes na nossa Bracara Augusta onde, a qualquer momento, pode acontecer uma tragédia? Aí, teremos de novo Pilatos a lavar daí as suas mãos. Seguindo-se as lamentações habituais e outro belo soneto, dito em tribunal, do estilo “desgraçadinha”. 

A notícia caiu, tal como quando a mosca cai na sopa: o velhinho mosteiro da Batalha apresenta degradação evidente provocada por ação do ruído rodoviário. E porquê? Por ter sido construída uma autoestrada, ali próximo, o que provoca sérios danos no monumento. Pelo que as autoridades andam a ver se constroem uma barreira (qual “muro”?) de proteção do barulho, uma vez que do estremecimento ninguém o livra. Mas será que com tanta gente entendida na matéria ninguém previu esse nocivo impacto? 

A mesma sorte não teve nem terá a monumentalidade do centro histórico bracarense. Onde só um vergonhoso muro desses (qual escudo protetor?) a poderia proteger dos “tremeliques”. Tanto do intenso e estridente ruído das noites brancas como dos carros do Rally de Portugal, trazido pela mão do edil atual e, portanto, da sua responsabilidade. Por isso o autarca do Porto o rejeitou. Ou será que o de cá pensa que uma Sé de Braga, as igrejas e um certo casario secular terão sido construídos em betão e cimento? Como se já não bastasse ter tido – aqui há uns tempos – a triste ideia de levar os trepidantes blindados sobre lagartas do RC6, com forte atrito, para a Praça do Município.

 

Autor: Narciso Mendes
DM

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22 maio 2017