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O meu limoeiro caviar

Decidi escrever hoje sobre o meu “ Limoeiro Caviar”.

Fui criado no campo. À solta. Aos ninhos e aos grilos. A ouvir estórias de bruxas e afins em que nunca acreditei mas que me deleitava ouvir os caseiros e as empregadas lá de casa. Cresci a ouvir a minha muito saudosa Mãe chamar-me, todos os dias: “Carlos, anda lanchar” ou “Carlos anda fazer os deveres”! Não parava dentro de casa e mal chegava da escola, tirava os sapatos e as meias e descalço corria feliz, para grande arrelia de minha Mãe. Trepava às árvores para, lá sentado, comer as laranjas, as limas e outra fruta até não poder mais! Fui criado como um rústico e ainda hoje sinto uma atracção pela terra. De mexer com as mãos na terra, sem luvas, mesmo com as que me têm dado.

A vida, contudo, afastou-me da terra e da minha terra. Mas não esqueci o prazer de afagar a terra. De lhe tocar. De lhe dar uso ainda que com pouco proveito. Acalma-me regar, à mangueira ou “ao pé” como via fazer. Gosto do cheiro da erva cortada. Depois de uma chuvada, inebria-me o cheiro que brota para os ares. Sempre que posso, leio ao ar livre, debaixo de árvores. Também rezo no meio das árvores contemplando uma flor, um fruto, o canto de um Pisco (sou um apaixonado por este passarinho!) …

Sou, de facto um rústico e orgulho-me muito de o ser.

Orgulho-me das árvores que tenho plantado, mesmo agora com o peso dos anos e as dores, as malfadadas dores na coluna. Plantei dezenas de japoneiras diferentes e envaideço-me no Inverno de as ver floridas. Tenho uma vaidade (não é pecado!) nos meus citrinos cuja colecção já ultrapassa as duas dezenas de variedades distintas.

Entre os citrinos pouco frequentes que tenho, conto com as toranjas gigantes ou os “ limões dedos de Buda”.

A minha querida colecção este ano deleitou os meus 8 netos e a mim: “limparam” quilos de Kumquates em poucos dias. Era vê-los correr e trazer mãos cheias daquele pequeníssimo citrino! Para desgosto deles, acabaram. O que sofreu mais foi o Lourenço a quem prometi plantar mais um Kumquate só para ele. O que já fiz! Estes citrinos encheram-me de alegria. Os meus leitores podem imaginar a alegria que me deu ver o Henrique Luís, de três anos, “atacando” também aos kumquates!!!

No dia 30 de Agosto, aniversário de casamento de meus pais, qual prenda que lhes enviei espiritualmente para o céu, vi…. A primeira flor de um “ limoeiro caviar”, branca como a mais pura das neves e pequeninamente amorosa com as suas três pétalas. Não se pode calcular a minha alegria rusticamente infantil! Não corri para dar a “ boa nova” à Luísa. Mas acelerei o passo para partilhar com a minha Mulher tão grande alegria: uma flor de “limão caviar”! Agora, vou tirar uma fotografia para enviar aos 8 netos, sem esquecer o amante da Natureza que é o Lourenço.

Vingará? Não vingará esta primícia? Mas esta primeira alegria já ninguém ma tira!

Para mim, aquela flor é um tesouro que já arquivei na arca das boas recordações. O “ limão caviar” poderá frutificar! Que alegria! Já estou a imaginar os meus netos, grandes e pequenos, a partilhar tamanha alegria com o seu avô, um rústico.

Dou graças a Deus por ainda me deixar entusiasmar com os frutos da criação e de me deixar comportar como uma criança perante uma pequena flor de “limão caviar”!


Autor: Carlos Aguiar Gomes
DM

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2 setembro 2021