Não existe algo cem por cento feio. Umas coisas são menos belas do que outras. O simples facto de as coisas existirem já carrega em si uma certa porção de beleza. A substância do ser é, em si e por si, bela.
Portanto, a beleza existe em todas as coisas; o que falta, muitas vezes, é a nossa sensibilidade para com ela e, depois, dela podermos usufruir adequadamente. E se nos transferirmos para o campo moral, então é aí que há pouca sensibilidade e pouca ética para com a beleza que se encontra, em pleno, na verdade das coisas. Muitos responsáveis só veem a beleza da verdade quando lhes convém ou podem tirar dividendos, nem que, para isso, a tenham de adulterar. É assim que, muitas vezes, se esbanja o erário público, prejudicando os pobres e os mais frágeis que, ainda por cima disto tudo, acarretam com os impostos ou suportam os financiamentos da banca que foi delapidada por maus gestores. Esta é que é a face feia das coisas. E há tantas distorções da verdade e tantas visões enviesadas da realidade!
Até quando há grandes catástrofes, aí vêm todos apelar à solidariedade e fazer belos discursos e anunciar medidas de emergência para salvar a face. Mas tudo acaba por se esfumar numa espécie de cosmética para dar um aspeto de beleza na “atitude solidária”.
A substância dos problemas – essa fica no mesmo estado em que se encontrou. Alejandro Jodorowsky dizia: “Os milagres são comparáveis às pedras: estão, por todo o lado, a oferecer a sua beleza, e quase ninguém lhes dá valor. Vivemos numa realidade onde são abundantes os prodígios, mas só quem desenvolveu a sua percepção os consegue ver. Sem essa sensibilidade, tudo se torna banal, ao acontecimento maravilhoso chamamos casualidade, avançamos pelo mundo sem esse segredo que é a gratidão. Quando acontece algo extraordinário, vêmo-lo como um fenómeno natural, do qual, como parasitas, podemos usufruir sem dar nada em troca”.
Para educar de um modo correto, nós devemos ser pessoas minimamente gratas, curiosas e sensíveis à beleza. Se o feísmo é a ausência da beleza, podemos afirmar que algo que contenha pouca beleza é algo vazio. O vazio a que, coloquialmente, chamamos “vulgaridade”. A vulgaridade é o que carece de importância, de originalidade e de verdadeiro conteúdo. Extraviada a sensibilidade para desfrutar da experiência estética, brota logo a mediocridade, a mesquinhez e a futilidade do vazio moral e cultural, perdendo-se o contacto com a realidade ou com o contexto que nos permite dar sentido à nossa existência.
O que realmente interessa é educar crianças e formar pessoas livres do feísmo das ideologias distorcidas que nunca levarão quem quer que seja à posse da beleza que enforma a dignidade humana. Belo é aquilo que respeita a verdadeira natureza do homem. Proteger o olhar das crianças diante do feísmo da distorção da ética é fundamental, porque aquilo que não respeita a verdade da sua natureza – as suas necessidades, os seus ritmos ou a sua ordem interior – pode deformar o seu crescimento harmonioso.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes