Na realidade, as boas notícias têm-se sucedido a uma cadência admirável e, para isso, também o desempenho da economia, com os números do Produto Interno Bruto (PIB) e da taxa do desemprego a atingirem valores ainda há pouco tidos como difíceis de alcançar, tem fortalecido o clima de otimismo que o país respira.
Sem grandes exageros, poder-se-á dizer que Portugal atravessa um momento de sucesso atraindo cada vez mais turistas ávidos de conhecer o país que definitivamente está na moda. Certamente que para tamanho triunfo muito tem contribuído a instabilidade vivida em muitos destinos que habitualmente concorriam connosco mas, apesar destas circunstâncias, não devemos menosprezar as nossas qualidades. A nossa história multisecular, a cultura, a gastronomia, a paisagem multifacetada deste retângulo no extremo ocidental da Europa e o clima ameno a conjugar com as nossas qualidades de povo sereno e acolhedor têm sido outros fatores importantes.
A diferente nível, mas dando um enorme contributo a este ambiente de entusiasmo, estão as empresas exportadoras que têm diversificado mercados e aumentado significativamente o valor dos produtos colocados no exterior.
A emoldurar esta vaga de regozijo estão as notícias oriundas da União Europeia que nos confirmam a saída de Portugal do Procedimento de Défices Excessivos, que vigorava desde 2009.
Nesta autêntica onda de extraordinário ânimo não falta quem tente chamar a si as responsabilidades deste resultado. Para uns, o mérito é do atual Governo, para outros tudo começou no anterior e é fruto, antes de mais, de várias conjunturas externas e de circunstâncias geopolíticas favoráveis.
Naturalmente, pesando bem cada um dos argumentos, ninguém poderá reivindicar a totalidade da vitória. Todos terão feito a sua parte para o êxito e este deve-se essencialmente à capacidade de sofrimento e de resiliência do povo português.
Em poucos meses, quase de um momento para o outro, o país foi arrebatado por uma vaga de otimismo desmedido. Para isto, por certo muito tem ajudado a contagiante ação do Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa e a capacidade de comunicação do Primeiro-ministro, Dr. António Costa.
Aqui chegados, urge não cair no deslumbramento e não alimentar falsas ilusões!
É fundamental não criar expetativas desmedidas porque nem Portugal mudou tanto, nem a Europa e o Mundo encontraram ainda verdadeiros rumos que nos possam sossegar.
É urgente ser realista e pensar que o país segue com os mesmos problemas estruturais por resolver, que a classe média continua a decrescer, que a pobreza nas suas diferentes vertentes é um fardo por resolver, que boa parte da geração mais jovem prossegue a sua vida em diferentes países estrangeiros e que, apesar da tímida subida da natalidade, persiste um grave problema demográfico.
Não desejando qualquer semelhança com algum “Velho do Restelo” dos tempos modernos, exulto com as conquistas de Portugal e dos portugueses e apenas pretendo chamar à razão todos aqueles que, parecendo ter despertado de um terrível pesadelo, julgam ter acordado num paraíso de manás sem fim.
O deslumbramento é um perigoso inimigo da razão. Escurece a visão, entorpece o pensamento, amesquinha a prudência e descura o saber. Por isso, sendo “o pior cego aquele que não quer ver”, para que não se venham a repetir situações ainda bem presentes na memória de quantos suportaram as agruras do último resgate, se “o sonho comanda a vida” e é importante sonhar, também é preciso ser pragmático, estar alerta e, por muito que custe, não descurar a realidade.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira