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Natalidade: precisa-se e recomenda-se

Começam os nossos dirigentes políticos e escolares a ficar seriamente preocupados com a falta de “matéria-prima” de alunos, que deve verificar-se num futuro próximo, devido à forte baixa da natalidade no nosso país. Infelizmente, não é apenas uma dificuldade portuguesa, mas de toda a velha Europa, que, como alguém observava, já não é propriamente a “Velha Europa” tradicional, berço de tantas culturas e de tanta expansão civilizacional, mas uma “Europa Velha”, no sentido de que já não se basta a si mesma em termos populacionais. Tal como uma anciã, passou a idade da procriação e aguarda, na reforma, um futuro complexo, porque não sabe exactamente o que vai acontecer, após a sua despedida desta vida, que pode ocorrer em qualquer momento, à medida que o tempo passa e se torna, cada vez mais provável, ao aperceber-se do definhamento da sua vitalidade. Um índice significativo do que se refere encontra o seu eco nas palavras proferidas pelo actual reitor da Universidade de Coimbra, Prof. Doutor João Gabriel Silva, na recente sessão solene de abertura das aulas. Considerando o real decréscimo de natalidade de há quinze anos até hoje, indica que, na próxima década, “o número de candidatos ao ensino superior venha a decrescer cerca de 25%, algo de catastrófico”. E considerando que se “em Lisboa e Porto a migração interna compensa a diminuição demográfica”, não assim na região de Coimbra, “onde houve uma diminuição da população residente de 2001 para 2017, na faixa etária dos 15 aos 24 anos, de 33%”. E acrescentou ainda que, apesar de ter registado um número recorde de novos alunos este ano, “o total de estudantes portugueses da UC (Universidade de Coimbra) tem vindo a baixar, e essa tendência profunda vai continuar”. Como factor compensatório, salientou que aumentou a inscrição e a frequência de estudantes estrangeiros, atingindo no ano passado, a percentagem de 20%. Basta dar uma volta pelo país fora para, com alguma facilidade, encontrarmos em estado de abandono cadavérico nas nossas aldeias muitos dos edifícios tradicionais das escolas primárias; ou então, aproveitados para usos diferentes da razão de ser da sua construção. Por exemplo, ironicamente, entre outras finalidades, para lares da terceira idade. Há idosos, mas não existem crianças. Fecham-se as escolas e abrem-se lugares para os avós e bisavós dos pouco descendentes – quando os há! – aguardarem com mais conforto e assistência que os venham levar para a sua morada definitiva, como costuma dizer-se. É triste e também assustador contemplar este espectáculo de definhamento progressivo e natural duma sociedade. Toda ela está orientada para que as pessoas vivam, onírica e burguesmente, o melhor possível a sua existência, sem, no entanto, se preocuparem com o futuro das gerações vindouras. A natalidade, entre nós, surge somente como uma preocupação dos governos – o que até certo ponto está certo –, mas não de quem a pode concretizar. Facilita-se o divórcio, as relações sexuais a todo o custo e em todas as circunstâncias, o aborto como uma realidade acessível e normalizada de qualquer mulher que engravida, a contracepção como norma habitual de comportamento da juventude e de quem se casa ou une transitoriamente, como que a ver se é bom viver assim ou desfazer os laços de convívio sem grande constrangimento, etc. Como alguém observava, transforma-se a vida sexual do homem numa espécie de recreação colectiva e esquece-se, silencia-se e não se protege nem aprecia a sua função procriadora. Por isso, quem quer formar uma família unida e geradora de novos seres com generosidade, transformando-a no berço e meio natural da concepção, do nascimento, do crescimento e da preparação para a vida dos seus filhos, é olhado como uma espécie de relíquia obsoleta e extravagante. As consequências estão bem patentes...
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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23 setembro 2018