Uma amiga, que se interessa pelas questões relativas aos idosos, enviou-me esta frase que deu o mote para escrever este artigo. “Não fiques triste por envelhecer”.
Enfatizou ainda que envelhecer constitui um privilégio que muitos não têm. “Tens razão amiga”. Contudo às vezes a vida dos mais idosos não é de todo facilitada o que provoca alguma angústia.
Ver partir os entes queridos. Perder os amigos. Reconhecer que já não se possuem as mesmas faculdades para enfrentar as vicissitudes que surgem no dia-a-dia a diferentes níveis, de saúde, financeiro, das relações interpessoais e comunitárias que influenciam igualmente o nosso modo de estar e de sentir na sociedade em que nos movemos.
Alguém acrescentou uma perspetiva interessante: “A vida tem a cor com que nós a pintamos”. Logo, cada pessoa tem um modo diferente de analisar os acontecimentos, ou seja, sob um prisma positivo ou mais negativo, o que vai certamente influenciar o modo como vivemos a vida.
Há alguns dias comentava a uma jovem, que é triste começar a envelhecer, sendo que em abono da verdade, o envelhecimento começa desde o dia em que nascemos.
A jovem contestou com um ar muito doce: “Quanto mais idade se tem, mais sabedoria se possui”. Na verdade, as relações entre gerações revelam ser de extrema importância a partilha de saberes e de conhecimentos. Por um lado é bom olhar para trás e exclamar: “Já fiz tantas coisas!”.
Por outro lado, é bom para os mais jovens usufruírem desta experiência vivenciada, complementando-se assim, nesta partilha entre gerações.
Uma amiga referiu que sentiu muito esta vivência intergeracional quando foi visitar uns familiares de férias na praia a seu convite, cujo grupo incluía várias faixas etárias. Todos, de um modo ou de outro, beneficiaram com essa convivência.
Os mais velhos transmitiram as histórias da família que os mais novos ouviam com muita atenção não cessando de colocar perguntas muito interessadas sobre os seus antepassados.
Os mais velhos sentiram com agrado e também aprenderam com os mais jovens os novos estilos de vida, aos quais se tentaram adaptar para acompanhar o progresso, as novidades existentes que desconheciam.
E nesta transmissão existia sem dúvida interesse, respeito, amor e compreensão pela individualidade e sentimentos diferentes de cada membro da família. E muitas histórias se contaram, muitos jogos se fizeram, muitos passeios na praia se deram aproveitando para apanhar conchas e tomar banho, mas onde imperava sobretudo a boa disposição, a aventura, o amor e a solidariedade familiar.
Todos colaboravam nas tarefas domésticas permitindo aliviar um pouco o trabalho da dona de casa e mãe, que muito organizada, atenta e discretamente, controlava tudo para que tudo corresse pelo melhor a fim de que todos se sentissem bem, com as suas diferentes necessidades colmatadas. C
onquistaram-se ilhas na brincadeira, fizeram-se passeios pela marina, admirando-se a paisagem belíssima, compraram-se pequenas recordações simbólicas alusivas ao local em que se encontravam, para oferecer aos que não puderam vir, assistiram a pequenos espetáculos para famílias, promovidos por um hotel existente no local, em que os animadores interpretavam com muita graça, alegria e profissionalismo, tendo sempre em atenção o bem-estar das crianças, nas diferentes noites em que assistiu, excertos alegres do filme “Mamma Mia”, “O Rei Leão” “Sunset”.
Visitaram-se alguns locais, entre eles, a belíssima Igreja dedicada a Nossa Senhora das Angústias, declarada padroeira de Ayamonte, Espanha, no ano 1756, na sequência do terramoto ocorrido a 1 de novembro de 1755.
Segundo reza a história, dois irmãos pescadores, no final do século XVI, que pescavam no esteiro de São Bartolomeu do Sul, em Castro Marim, quando atiraram as redes ao mar, encontraram uma caixa de grandes dimensões fechada, em cujo interior se encontrava uma imagem, com mais de um metro de altura, da Virgem Maria com Jesus Cristo no seu regaço, a que as entidades eclesiásticas de Ayamonte deram o nome de Nossa Senhora das Angústias, dedicando-lhe a Igreja no ‘Baluarte de las Angustias’.
Esta minha amiga diz que rejuvenesceu imenso interiormente, que aprendeu bastante com esta doce convivência entre gerações, não se sentindo assim triste por envelhecer, graças ao afeto, respeito e demonstrações de carinho recebidas e que viriam a tornar estes dias inesquecíveis.
Que Santa Maria, Rainha da Família, proteja todas as famílias, ajudando a contribuir, em particular, para uma promoção saudável das relações intergeracionais promovendo assim o bem-estar e o progresso da humanidade.
Autor: Maria Helena Paes