Para quem gostar de apostar em soluções inovadoras, acrescentar valor ao que faz ou contribuir simplesmente para projetos ousados e diferenciadores, não há maior frustração (eu que o diga!) do que ver o seu trabalho ser secundarizado, maltratado, ou simplesmente ignorado. Por vezes, é a ciumeira muito portuguesa a funcionar, outras vezes, é a falta de sensibilidade e de conhecimento a desprezá-la, mas a tendência lobista começa a ser um imperativo na hora de nos confrontarmo-nos com o reconhecimento merecido.
O que se passa? Portugal tem estado em destaque nos últimos anos, em todos os ranking’s internacionais que avaliam a capacidade inovadora empresarial, institucional e pessoal dos portugueses e verdade seja dita, entramos recentemente no grupo restrito dos que detém uma maior capacidade inovadora. Esta semana foi publicado mais um estudo do SC Johnson College of Business que nos coloca em trigésimo primeiro lugar, a nível mundial, na área financeira. Recentemente, o país foi classificado como líder na Inovação nas PME’s, com 66,4 por cento de empresas contra a média europeia de 49,5 por cento. De acordo com o European Innovation Scoreboard 2020, fazemos parte “dos inovadores fortes”. O trabalho na Administração Pública lusa já se sobrai e, mesmo assim, continuamos a enfrentar dificuldades na hora de ver reconhecidas as práticas e não apenas os números. De que falo? Recentemente, centenas de municípios europeus estiveram envolvidos na candidatura a Capital Europeia da Inovação, desde que associadas ao programa Horizonte 2020, promovida pela Comissão Europeia. Tal como em Portugal, geraram-se expectativas em torno da possibilidade de se ganhar um milhão de euros (o vencedor) e pouco mais de100 mil para os cinco vice-campeões. As cidades tinham de demonstrar que ou contribuíam para ecossistemas de inovação abertas e dinâmicos, ou envolviam os cidadãos na governação e tomada de decisões ou utilizavam a inovação para melhorar a resiliência e a sustentabilidade das suas cidades. Resultado: nas 12 finalistas do concurso da Comissão Europeia nem uma cidade portuguesa. O que sei é que muitas autarquias (ex Braga) fizeram um esforço tremendo para ajustarem as suas candidaturas às exigências, tomando como ponto de partida, as suas experiências anteriores e a de outras cidades europeias, envolvendo, no caso em particulares, institutos de investigação e universidade. Não deixa de ser frustrante, quando nos apercebemos que os critérios de seleção não foram publicitados, ficando-se sem saber porque foram preteridas as autarquias portuguesas. O que sei objetivamente é que Portugal não tem qualquer representante nos júris e também sei que, ao contrário da vizinha Espanha e de muitos outros países, continuamos na cauda da Europa quando se trata de atuar como lóbi e ver reconhecido pelos outros, o trabalho que por cá se faz, seja à direita ou à esquerda da Governação. Hoje, não ter uma representação em Bruxelas é como se estivéssemos apagados do sistema e por muito que doa aos que acham que não devia ser assim, a verdade fala por si. Ou somos ingénuos e acreditamos na justiça do juízo, ou somos humildes e vemos os outros a ousar ultrapassar-nos pela direita, ou nos tornamos proativos e começamos a fazer o que os outros fazem e passamos a exigir em Bruxelas e não cá, ser tratados da mesma maneira. Não nos podemos contentar com pequenos reconhecimentos ou ver exemplos como o de Cascais que recentemente ganhou um prémio da ONU pela sua inovação digital e achar que afinal até há quem nos reconheça e isso chega. Mais do que pertencermos a um espaço europeu comum, é vital, saudável e pertinente que se suporte o trabalho dos autarcas portugueses com uma take force que ombreie com a prática das cidades europeias, sobretudo, com aquelas com que nos comparamos e que há muito nos dão lições sobre como bem influenciar os que decidem se afinal somos, ou não, bons a gerir, a inovar, a competir. Se queremos afirmar o papel das cidades portuguesas na Europa global, não podemos ficar de braços cruzados. Afinal de conta não podemos confiar de forma cega em quem lança prémios desta natureza sem transparência e num quadro de decisão que fazem lembrar as vitórias de secretaria.
Autor: Paulo Sousa