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Na presença dos Anjos…

O Salmo Responsorial da Festa dos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, no passado dia 29 de setembro, não só dá o mote para esta reflexão como lhe empresta o título: Na presença dos anjos, eu vos louvarei, Senhor. A memória litúrgica dos Santos Anjos da Guarda, três dias depois, reforçou ainda mais o interesse, a necessidade e a conveniência de refletir e escrever sobre o assunto.

É um facto que “a palavra ‘Anjo’ designa uma função, não uma natureza” (S. Gregório Magno), assunto sobre o qual não se pode dizer muito. Na condição de criaturas e servos de Deus, são semelhantes aos humanos, sendo, contudo, bem diferentes (vêem constantemente a face de Deus [cfr. Mt 18, 10]). Talvez por isso a iconografia cristã os apresente com corpo (a sugerir a semelhança) e asas (a assinalar a diferença).

Com base na Sagrada Escritura e na tradição da Igreja, bem mais se pode dizer da sua função. Começam por ser mensageiros de Deus (é esse o significado da palavra grega ángelos): trazem notícias de Deus para nós e levam notícias nossas para Ele, conforme dá a entender a narrativa de Jacob, em Betel (Gn 28, 12: “[Jacob] teve um sonho: viu uma escada apoiada na terra, cuja extremidade tocava o céu; e, ao longo desta escada, subiam e desciam mensageiros de Deus”), e a afirmação de Jesus Cristo, no chamamento dos primeiros discípulos, em Jo 1, 51: “vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo”.

Os anjos são também guias e protetores, como se depreende de Ex 23, 20-23: “Eis que Eu envio um anjo diante de ti, para te guardar no teu caminho e para te fazer entrar no lugar que Eu preparei. Mantém-te atento na sua presença e escuta a sua voz. Não lhe causes amargura, porque ele não suportará a vossa transgressão, porque está nele a minha autoridade. Mas se escutares a sua voz e se fizeres tudo o que Eu falar, serei inimigo dos teus inimigos e adversário dos teus adversários, pois o meu anjo caminhará diante de ti”.

Os anjos são ainda nossos intercessores junto de Deus, como o sugere a expressão “Anjo da Guarda”, com respaldo bíblico (Sl 91[90], 11-12: “Ele deu ordens aos seus anjos para que te guardem em todos os teus caminhos”). Nesse sentido apontam também a afirmação de Rafael, em Tb 12, 15 (“Eu sou Rafael, um dos sete anjos que apresentam as orações dos justos e têm lugar diante da majestade do Senhor”), e a própria expressão “anjo da Igreja”, em Ap 2, 1.8.12.18; 3, 1.7.14.

Na plêiade de anjos que povoam a Escritura e o imaginário do Povo de Deus, três se destacam por serem os mais importantes: Miguel, Gabriel e Rafael, nomes de origem hebraica que ostentam atributos divinos. Assumem a designação de arcanjos por serem os mensageiros principais, os mais importantes.

Miguel significa “Quem como Deus?”, uma pergunta retórica que afirma a grandeza e a superioridade absoluta de Deus. Na Sagrada Escritura, aparece associado ao combate entre o bem e o mal (Dn 12, 1; Jd 9; Ap 12, 7-9) e à afirmação da justiça de Deus. É para aí que remetem, respetivamente, a espada e a balança que ostenta em suas mãos. No judaísmo tardio, é o anjo que assiste ao trono de Deus.

Gabriel traduz-se por “Deus é forte”. É o anjo das boas notícias (Lc 1, 19.26) e o seu nome sugere que “a Deus nada é impossível” (Lc 1, 37).

Rafael significa “Deus cura”. É, de facto, o anjo que, em Tb 11 – 12, servindo-se de fel de peixe, cura das suas cataratas Tobite, o pai de Tobias.

Solidários connosco no louvor, os anjos remetem constantemente para Deus, aproximam-nos d’Ele e motivam a exclamação ou mesmo o cântico: Na presença dos anjos, eu vos louvarei, Senhor.


Autor: P. João Alberto Correia
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5 outubro 2020