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Museu da Imagem

O impacto cultural e arquitectónico que senti na visualização dos quadros expostos, transportou-me, naturalmente, para o passado, avivou-me a memória e fez-me reflectir no tempo e nos espaços construídos pelas gentes obreiras que nos antecederam. É neste “choque” de testemunhos impressos em suporte fotográfico, uns desaparecidos e outros ainda teimosamente de pé, existentes no rico e vasto espólio citadino, me apercebi como o tempo passa e como se transformou a história construtiva na cidade, quantas vezes da pior maneira. 

O Museu da Imagem é uma unidade museológica pequenina, muito bem arrumada e bastante acolhedora. Simpatia e um sorriso também me enlevaram nesta visita que tive o prazer de fazer. 

Logo que se entra, deparei-me, de imediato, com um pouco de história, bem representada nos restos das muralhas medievais, que forram as paredes graníticas do seu interior. Muralhas que praticamente desapareceram da cidade antiga por devaneios, por decisões erradas ou por modernismos dos detentores do poder no tempo. Perda, de facto, irreparável como tantas outras obras que existiam, como o convento dos Remédios e a sua igreja, que engrandeceram e foram referência, durante séculos, nesta bimilenar cidade. Hoje, só nos conformamos em apreciar esta monumentalidade através de fotografias ou de gravuras. 

O passado exposto prende o visitante e deixa-o apreensivo e contemplativo, perante imagens de um passado fértil de inovação, de arrojo e de simplicidade.  

A exposição “Braga e o Tempo” é uma deliciosa viagem ao passado. A um passado recente, do século XX, em que o visitante tem à sua disposição momentos de indiscutível nostalgia, de uma visão urbanística ímpar e também, de uma forma inglória, de destruição gratuita de um património arquitectónico que marcava uma cidade grandiosa no medievo.

Cada quadro obriga-nos a uma reflexão, a uma tomada de consciência, em silêncio e em espiral, à procura de uma razão plausível que possa explicar e responder ao desconcerto de decisões que se tomaram para derrubar histórias construídas com acerto e com futuro. Cada quadro obriga-nos a perscrutar os meandros de um passado um tanto místico numa composição histórica feita de gente, de luta, de anseios e de sacrifícios.

Como questão irrespondível naquele espaço e naquele momento, me interroguei: Foi  a necessidade de expansão da cidade ou um pretenso “modernismo”, corrente sócio-cultural ambígua, tão propalado pelos homens do poder quando lhes convêm, a responsável pela destruição de algumas jóias arquitectónicas da cidade? 

Que esta exposição sirva, ao menos, de lição para os decisores políticos locais reflectirem e não cometerem mais erros, quando pretendem mexer no património construído da cidade.


Autor: Armindo Oliveira
DM

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24 maio 2017