O espectro político nacional está a mudar com o aparecimento e assento no Parlamento de novos agrupamentos e ideologias; basta pensarmos nos partidos PAN (Pessoas, Animais e Natureza), no CHEGA, no LIVRE e no INICIATIVA LIBERAL que se vão expandindo e influenciando a vida política nacional e a prática parlamentar, levando, inclusive, o incómodo e azedume ao presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, que, há dias, já indevidamente, a meu ver, censurou o comportamento de André Ventura, líder e deputado do CHEGA.
Ora, se pensarmos bem, esta mudança inesperada da paisagem política parlamenrar traz consigo um sério aviso aos dois maiores partidos, Socialista (PS) e Social-democrata PSD), responsáveis pela governação do país desde o 25 de Abril, excetuando o período do PREC (Processo Revolucionário Em Curso) de triste memória; e, além do mais, os três partidos com assento parlamentar pela primeira vez transportam consigo o desencanto, o desalento e a desilusão de milhões de portugueses com a forma como o país tem sido governado e com o abastardamento da Democracia em proveito próprio e de grupos oligárquicos.
Pois é, esta revolução que está a acontecer paulatinamente no status quo político já se verifica, há algum tempo, em grande parte dos países da União Europeia e igualmente nos seus grupos parlamentares; e começa a ganhar força eleitoral, agitando as águas de governações alternadas dos mesmos partidos por longos períodos.
Todavia, o que mais preocupa e dá que pensar é o aparecimento e avanço de partidos de extrema-direita e de extrema-esquerda que defendem ideias de racismo, xenofobia, populismo, totalitarismo e nacionalismo; e isto é preocupante numa Europa que viveu, nos últimos 100 anos, duas guerras mundiais devastadoras e movidas por ideais extremistas de cariz fascistas e comunista.
E o resultado destes ideais, é bom que não se esqueça, traduziu-se em milhões de mortos, domínio de milhões de povos e aniquilamento dos seus países; e, sobretudo, de triste e trágica memória, na existência de campos de concentração e de extermínio como foram os campos de concentração nazis e respetivos fornos crematórios, bem como o Gulags comunistas.
Agora, se queremos evitar o recrudescer evidente destas tristes realidades históricas, só temos uma forma de o fazer e que é obrigar os partidos tradicionais a reformular-se profunda e rapidamente; e reformulação essa que passa por uma mudança necessária e urgente de pensamento e ação, mormente com o aparecimento e lançamento de novos dirigentes políticos, preparados em escolas de formação de quadros, onde o saber e a filosofia política sejam prevalecentes e fundamentais.
Não tenhamos ilusões nem contemplações, porque se olharmos para o Parlamento que temos tido ao longo dos anos ele não mudou muito em termos de rejuvenescimento de pessoas, projetos e ideias, nem em questões de qualidade de quadros e funcionalidade e representação partidária; há mesmo nos partidos tradicionais deputados que se arrastam por décadas nas cadeiras da Assembleia da República, dando a imagem triste de autênticos donos da coutada, da política e da Democracia.
Aqui, haverá necessidade e urgência em diminuir o número de deputados, pois temos um Parlamento pesado e caro demais para o que se faz e sem nenhuma necessidade; e, igualmente, necessidade e urgência há em limitar o número de mandatos de um deputado para que se permita o rejuvenescimento de valores e ideias e consequentemente, o aparecimento de novos métodos de trabalho e princípios organizacionais; também a alteração profunda que os partidos rejeitam da legislação eleitoral que consinta uma verdadeira, mais direta e ativa representação dos eleitores se torna urgente e imprescindível.
Por isso, os anos de Democracia que já levamos sempre com os mesmos donos e mentores consente o aparecimento e imposição de novos partidos e ideologias contrários à Democracia; e, à parte o Partido Comunista Português (PCP) que mantém a sua firmeza e constância ideológica bem próprias e históricas, o Bloco de Esquerda (BE), embora não queira mostrar abertamente a sua ideologia extremista e fraturante de extrema-esquerda, é já, no momento, a terceira força parlamentar, o que traduz o avanço que referimos, demasiado rápido e sempre em crescendo.
E pronto, é o momento certo para se ler estes sinais dos tempos políticos que o país atravessa; e essa leitura deve ser pertença obrigatória dos partidos tradicionais (PS e PSD) que têm governado o país, nem sempre a favor do povo e dos reais interesses nacionais e, dessa leitura deve resultar o propósito de mudanças profundas e rápidas na sua forma de pensar, de atuar e de estar na vida política, sobretudo com honestidade, empenho, dedicação e competência, numa palavra, servindo e não se servindo, seja do povo, seja das instituições que lideram.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado