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Missão, desassombro e coragem

O Jornal Diário do Minho completou esta semana 100 anos de publicações. Nasceu numa época de grande turbulência, passou por muitos episódios, sobreviveu a muitos momentos de desaire e grande dificuldade. Hoje, tal como ontem e também no futuro, defendeu uma forma sóbria e verdadeira de comunicar, de informar, de formar. Essa coerência e forma criteriosa de se posicionar facultou-lhe uma força inabalável de cumprir a missão a que se propôs. Quando em 2002 o José Eduardo me convidou para escrever umas crónicas sobre desporto, hesitei, mas aceitei. Se me dissessem que passados mais de 16 anos, 365 artigos depois, continuaria a escrever, com frequência, uma crónica, eu não acreditaria. Ao longo de todos estes anos tenho estado ligado ao desporto de diversas formas e funções: como atleta, treinador, dirigente, professor, assistente ou organizador de eventos, entre outras, e poder escrever no Diário do Minho é mais uma dessas formas. Aceitei o desafio de escrever, por sentir necessidade de expressar o desejo de fazer acreditar, pelo menos a quem lê os artigos, que o desporto vale a pena, que o desporto é muito mais que o futebol, que o desporto é mais que o alto rendimento, que o desporto deve ser inclusivo, que o desporto é a forma de expressão mais completa que existe, que o desporto tem um poder enorme de elevar a condição humana. Sinto-o como uma missão. Como costumo dizer, quero pagar a fatura daquilo que o desporto me faculta, todos os dias. Sempre pretendi e continuo a tentar expressar todas estas mensagens, com respeito, seriedade, mas, acima de tudo, com esperança. Esperança nos jovens, na mudança de paradigma, de mentalidade. Mas igualmente, com o desassombro de dar voz e lugar às coisas positivas que o desporto carrega. Hoje, assiste-se ao lapidar dos valores e dos princípios que o desporto comporta, pois é tantas vezes substituído, pelo negativismo, extremismo, escárnio e fanatismo. Tenho tentado fazer relevar o que de positivo se pode retirar deste fantástico fenómeno que é o desporto. É infame que os meios de comunicação sirvam apenas os grandes do futebol. Que alimentem os jogos de poder dos que querem manietar a opinião pública e também os órgãos decisórios. É lamentável e até vergonhoso que haja tão pouca honestidade intelectual, quando, por exemplo, a seleção de andebol vence, tão categoricamente, uma potência como a França, e não seja dada qualquer relevância jornalística nas primeiras páginas das edições dos jornais desportivos. É tempo de se romper com esta arrogância autista. É tempo de dizer que as diversas modalidades, os milhares de atletas (dos mais novos aos mais velhos), os seus familiares, os treinadores, os dirigentes, que se sacrificam, diariamente, pelo seu clube, pelo seu país, pela sua missão, merecem o mesmo respeito que os senhores que comandam os cordéis. É disto que se trata. É este contexto de cegueira, de falta de respeito, de fanatismo e de falta de cultura desportiva, que me fazem continuar a insistir escrever, tal como o Diário do Minho na sua história, com espírito de missão e com o desassombro da mudança. PS: Parabéns pelo centenário para todos os colaboradores e trabalhadores do Diário do Minho. Boa Páscoa.
Autor: Carlos Dias
DM

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19 abril 2019