“(...) e andavam com Ele os doze, e também algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, que era chamada Madalena e de quem tinham sido expulsos sete demónios, Joana, (...) e muitas outras, que os serviam com os seus haveres” (Lc 8, 1-3).
A mulher de que este excerto nos fala é celebrada, anualmente, no dia 22 de Julho, pela Igreja: Santa Maria Madalena. O seu comportamento teve, antes de se transformar numa discípula e arauto de Cristo, aspectos morais nada recomendáveis. No entanto, Jesus, que nos ensinou que o perdão divino não é parco - “até setenta vezes sete” - não teve pejo em deixar que ela O seguisse, depois de devidamente arrependida. Talvez, segundo alguns autores sugerem, o momento alto do sua conversão se desse, quando o mesmo evangelista nos narra que, tendo sido o Mestre convidado por um fariseu a comer na sua casa, durante a refeição “(...) uma mulher, que era pecadora naquela cidade, ao saber que Jesus estava à mesa na casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro cheio de perfume. Colocou-se por detrás, chorando aos seus pés, e com as lágrimas, começou a banhar-Lhe os pés, e depois a enxugar-lhos com os cabelos da sua cabeça, e beijava-Lhe e tornava-Lhe a beijar os pés e ungia-os com perfume” (Lc 7, 37-38). Jesus apreciou esta sua atitude, onde manifestava a dor pela sua conduta pecaminosa. E, ao que se supõe, a partir daquele momento, acompanhou o Senhor fielmente até ao momento mais duro e doloroso da sua vida: a crucifixão no Monte Calvário: “Estavam junto à cruz de Jesus, sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopá, e Maria Madalena” (Jo 19, 25). Mais ainda: acompanha-O à sua sepultura, a cargo de José de Arimateia: “Este, então (...) desceu o corpo de Jesus, envolveu-o num lençol e depô-lO num sepulcro, que fora aberto na rocha, e rolou uma grande pedra diante da entrada da sepultura. Entretanto Maria Madalena e Maria, mãe de José, estavam a observar onde O depositaram” (Mc 15, 46).
A sepultura de Jesus fora apressada e Maria Madalena pretende, no dealbar do primeiro dia da semana, ou seja, depois de passado o Sábado (dia de absoluto descanso no mundo judaico), embalsamar o corpo do Senhor, como deveria fazer-se, segundo os costumes da altura. Por isso, muito cedo, vai ao sepulcro, levando perfumes, com “Maria, mãe de Tiago, e Salomé (Mc 16, 1). Entre si, pensam num problema que não sabem resolver: “Quem nos vai tirar a pedra da entrada do sepulcro? Mas, olhando, viram que a pedra já tinha sido revolvida, apesar de ser muito grande” (Mc 16, 3-4). O que teria acontecido? Perguntam-se a si mesmas com estranheza. “Entrando, não acharam o corpo do Senhor” (Lc 24, 3). Ficaram perplexas e sem saber como proceder. Mas eis que “se lhes apresentam duas pessoas em trajes fulgurantes. Ficando amedrontadas e inclinando-se até ao chão, eles disseram-lhes “Por que buscais entre os mortos aquele que vive? Não está aqui, mas ressuscitou (...) Lembraram-se então elas das suas palavras (...) e anunciaram tudo isto aos onze e a todos os outros (...) Tais palavras, porém, pareceram a estes como um desvario e não acreditaram nelas. Mas Pedro, levantando-se, correu ao sepulcro. Debruçando-se, viu apenas as ligaduras e retirou-se, maravilhando-se consigo mesmo do que acontecera” (Lc 24, 4-6, 8.10-12).
Maria Madalena é a primeira pessoa a quem Jesus aparece, ressuscitado. Foi um prémio à sua persistência em ultimar o tratamento que era devido ao corpo morto do Senhor. Ela volta ao sepulcro, como nos conta S. João no seu Evangelho, provavelmente dando mais pormenores à cena narrada por S. Lucas: ”(...) e viu dois anjos em brancas vestes, sentados, um à cabeceira e outro aos pés, onde fora colocado o corpo de Jesus. Perguntaram-lhes eles: “Mulher, porque choras?” Responde-lhes ela: “Porque tiraram o meu Senhor e não sei onde O puseram” (Jo 20, 12-13). Estes não têm tempo de falar, porque Maria Madalena, voltou-se “e viu Jesus ali de pé, mas não sabia que era Jesus. Diz-lhe Jesus: “Mulher, porque choras? A quem procuras?” Ela, supondo que fosse o jardineiro, responde-Lhe: “Senhor, se foste tu que O levaste, diz-me onde O puseste e eu irei buscá-lO”. (Jo 20, 14-15).
Quer tratar o Senhor, ainda que morto, com todo o seu carinho, depois de O ter visto tão maltratado, sofrendo dores brutais e sendo escarnecido por tanta gente que, em vez de Lhe agradecer as palavras de amor e de compreensão que proferiu na sua vida pública e todo o bem que fez aos doentes que curou miraculosamente, O condenaram à morte duma forma cruel e injusta. Jesus apenas lhe diz: “Maria!” (Jo 20, 16) Era a sua voz inconfundível e reconfortante, tantas vezes por ela ouvida e apreciada, que lhe tocava agora o coração e a faz exclamar de modo imediato: “Rabbuni!”, que quer dizer “Mestre”. Diz-lhe Jesus: “Não me retenhas, porque ainda não subi para o Pai, mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes que vou subir para o meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. (Jo 20, 16-17. E Maria Madalena foi contar aos discípulos que tinha visto o Senhor. Ela é a primeira testemunha da ressurreição real de Cristo.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
MARIA MADALENA: A PRIMEIRA TESTEMUNHA DA RESSURREIÇÃO DE JESUS

DM
25 julho 2021