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Mais um olhar para a Era Digital

O Homem vive essencialmente para ser feliz e, para tal, a ciência é um auxiliar importante mas não fundamental na vida humana. Para ser feliz ao Homem não basta a ciência, a tecnologia, com a sua natural evolução, e até o dinheiro. Para ter uma vida virtuosa e feliz há mais de 20 séculos que foram apresentados ao Homem conceitos e normas. Por muito que nos tentem iludir não há nada de novo, já tudo nos foi dito. Torna-se necessário, apenas, conhecer e aprofundar as matérias com persistência.

Uma das grandes verdades do mundo contemporâneo é que “o mundo digital” não favorece o desenvolvimento duma capacidade de viver com sabedoria, pensar em profundidade e amar com generosidade (Papa Francisco). Acresce negativamente a esta realidade, também no nosso país, que uma boa parte da sociedade, desde a modernidade (sec. XVII) tem vindo a ficar cada vez mais pervertida. Concebeu-se um bezerro de metal fundido, representado pelos interesses, poder e dinheiro e prostram-se diante dele!.. Como podem, assim, cultivar valores ou crer, “vós que recebeis a glória uns dos outros e não buscais a virtude, a palavra e a verdadeira glória que só do Divino Homem vem?”

Muito recentemente assistimos à última conferência da Nova Ágora 2017, em Braga, em que se olhou para a Era Digital, como tema de grande atualidade. Os três oradores convidados, um sociólogo galego, um catedrático na área das engenharias de informática e sistemas e um catedrático de neurologia ou das ciências do cérebro. Todos os oradores reconhecem a enorme importância das novas tecnologias e da nova era da comunicação. Mas todos reconhecem, também, as contradições das pessoas na utilização das redes sociais, a liberdade ilusória, a massificação, a falta de afetos e a desvalorização das relações humanas. Que muitos espaços de comentários das redes sociais não são mais do que um pântano de maledicência e de imbecilidades. No campo da medicina percebe-se a progressiva substituição do saber científico, experiência e afetos que os médicos oferecem aos doentes, por técnicos. Há ainda o perigo da crescente robotização da medicina e a sua consequente desumanização.

Os oradores fizeram citações de Sócrates (o verdadeiro), Platão, Heidegger e Ortega y Gasset e de alguns cientistas das respetivas áreas do saber. Mas a grande conclusão que podemos tirar desta importante conferência é que chegados a um patamar superior de questões, colocadas pela ciência e pelas novas tecnologias, as repostas só podem ser concebidas e dadas no campo dos valores, da moral, da ética e da filosofia.

Foi dito, também, que tudo o que é humano e faz parte do seu agir inquieta a Igreja Católica. Ora sabemos que a teologia é um saber importante e específico, cruzado por três dimensões fundamentais – Ciência, Humano e Divino. Torna-se necessário, pelo que consideramos, que os responsáveis da sociedade se apercebam e interiorizem a grande urgência de se cultivarem valores a sério. Tal como em muitos países porque não promover, em colaboração com a Igreja Católica, desde sempre maioritária em Portugal, o ensino da teologia nas Universidades públicas portuguesas. Ou será que apesar das novas realidades emergentes da “Era Digital” queremos continuar a cavar o caminho da perversão e da decadência humana?


Autor: Abel de Freitas Amorim
DM

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9 abril 2017