No âmbito de um trabalho para as disciplinas de Português e História, um dos meus netos que frequenta o primeiro ano do 2º ciclo do ensino básico – o Guilherme –, escolheu o tema “FERNÃO DE MAGALHÃES E OS SEUS FEITOS HISTÓRICOS” para fazer uma apresentação, em powerpoint, de um texto que coligiu com base em fontes consultadas.
Apesar de eu ter gostado de ler esse escrito, que recorda a biografia do genial navegador minhoto, a descrição da sua épica viagem e a importância dos seus feitos – desde a descoberta da passagem do Oceano Atlântico para o Pacífico, na ponta Sul da América, depois chamada Estreito de Magalhães, o cruzamento deste último oceano e a prova de que a terra era redonda e de que era por mar, e não por terra, que se podia percorrer o mundo inteiro –, agora que se estão comemorando os 500 anos de tais acontecimentos, não é sobre tão brilhantes páginas da História Universal de todos os tempos que hoje quero discorrer. Mas antes sobre a epopeia missionária que a descoberta do arquipélago das Filipinas pelo navegador português, tal como a da Índia, Brasil, Malaca, Molucas, Macau, Timor e Japão por outros heróicos nautas lusos, ajudou a abrir.
E isto porque sinto que esta faceta dos Descobrimentos é muitas vezes ignorada ou minimizada, quando não deturpada ou rebaixada, sob o pretexto de ter dado cobertura à prepotência cruel dos colonizadores, à escravização dos nativos ou ao espírito dominador de cruzada e do proselitismo, em detrimento da dimensão evangélica e universal da Igreja.
Não que se deva esquecer que muitas vezes o “serviço de Deus” foi colocado também ao serviço do poder político e que outras tantas vezes a liberdade religiosa foi postergada e silenciada por temíveis inquisidores, tal como de resto aconteceu nos próprios territórios metropolitanos.
Mas porque, com o Concílio de Trento, uma nova etapa de missionação se iniciou, concebida em moldes mais evangélicos e segundo uma nova mentalidade, aberta a outras religiões, como a hinduísta e a budista, que passaram a não ser encaradas como demoníacas.
É neste enquadramento que proponho relembrar algumas efemérides e curiosidades ligadas ao nosso grande Fernão de Magalhães, tragicamente morto em 27-04-1521, numa escusada escaramuça na ilha filipina de Mactan, em que com 48 homens armados enfrentou 1500 guerreiros locais, chefiados por Lapu-Lapu.
Reza a crónica do italiano Antonio Pigafetta (acompanhante do capitão português na viagem de circum-navegação) que, em 16 de Março de 1521, a armada espanhola por este comandada avistou e aportou pela primeira vez na ilha de Homonhon, no sul das Filipinas; que, no dia 22 de Março, já na ilha de Mazawa, do mesmo arquipélago, Magalhães mandou plantar uma grande cruz de madeira no topo de uma colina com vista para o mar, após o que a adoraram; e que, depois, no dia 31 desse mês, Domingo de Páscoa, na mesma ilha, foi celebrada a primeira missa em solo filipino, a que assistiram milhares de autóctones, muitos dos quais se converteram ao cristianismo.
Após este primeiro momento alto na história missionária do catolicismo, um outro importante acontecimento religioso haveria de ter lugar em Cebu, outra ilha das Filipinas: o Raja (rei) Humalon e 830 habitantes foram baptizados no Domingo, 14 de Abril de 1521, durante uma celebração eucarística, no final da qual Magalhães ofereceu ao rei três presentes: uma cruz, uma imagem do Menino Jesus – o Santo Niño – e outra da Virgem Maria. E foi precisamente este momento da dádiva da imagem do Menino que, mais tarde, veio a justificar a grandiosa festa religiosa nacional em Sua honra, em 14 de Abril de cada ano e a construção da Pequena Basílica onde se guarda a imagem original do Santo Niño.
Estava, assim, aberta a expansão do catolicismo nas Filipinas que só em 1565, com a chegada de Miguel López Legazpi, foram efectivamente colonizadas pelo império espanhol, sob a égide do qual permaneceram por mais de 300 anos. Com mais de 100 milhões de habitantes e uma diáspora composta por cerca de 12 milhões, as Filipinas são o maior país católico da Ásia (85 milhões de fiéis) e um dos maiores do mundo.
Ora, se os filipinos são ciosos dos seus heróis nacionais, que se bateram contra o colonialismo espanhol, não é menos certo que se ufanam da fé que lá chegou há 500 anos, por iniciativa e obra de um genial navegador português. E por essa fé, que se mantem bem viva, é que os filipinos dão graças a Deus, especialmente agora que passam 500 anos sobre a chegada do cristianismo ao seu arquipélago.
E a prová-lo estão as celebrações jubilares da efeméride que, com imensa alegria, vêm promovendo, entre as quais merece ser destacada a delegação que, no passado dia 14 deste mês, enviaram ao Papa Francisco, a quem foram entregar uma réplica do Santo Niño.
Esta reacção altamente valorativa do povo das Filipinas demonstra bem que a sua evangelização foi tida como um serviço do Espírito e da Palavra. Como força libertadora. Como doxologia do Criador!
Autor: António Brochado Pedras