A verdadeira Direita francesa (i, e., a Frente Nacional) vinha há anos laboriosamente melhorando os seus resultados eleitorais, ao ponto de a notabilíssima Marine Le Pen ter alcançado 34% dos votos (11 milhões), na 2.ª volta das Presidenciais de Maio de 2017 (e na França, o PR tem muito mais poderes que em Portugal). Na 1.ª volta das mesmas Presidenciais, Marine obtivera o 2.º lugar, com 21,4% dos votos, contra apenas 23,9% de Macron, que ficou em 1.º.
Analistas houve, que acharam possível uma vitória de Marine na 2.ª volta, pois Macron era um jovem “parvenu”, sem um conteúdo ou percurso coerentes; e o partido de Marine já houvera conquistado, nas Regionais de Dez. de 2015, ca. de 28% do eleitorado. Porém, o “sistema”, as forças subterrâneas, uniram-se numa espécie de união anti-patriótica contra Marine e combinaram votar todos contra ela na 2.ª volta. E isto deu a Macron uma artificial (mas retumbante) vitória, com 66% dos votos (na 1.ª tivera apenas 23,9%). Igualmente mau foi o que veio a seguir, nas duas voltas das Legislativas de Junho de 2017.
O eleitorado parece que engraçou com Macron (ou deixou-se enfeitiçar…) e o seu recém-criado partido “En Marche”, uma espécie de salada de frutas liberal, voltou a ficar à frente, embora agora com uns modestos 32% na 1.ª volta, contra 13% da FN; 18% dos Republicanos e UDI; 11% do PS; e outros 11% da “França Insubmissa” da Mélanchon. Grave foi que, nestas legislativas o eleitorado desinteressou-se e a taxa de abstenção foi de 51% na 1.ª volta e de 57% na 2.ª! O que, p.ex., reduz os 32% do “En Marche”, de Macron para uns reais 15,39% na 1.ª volta…
2 – Porém, visto que a Democracia francesa é arcaica…). Isso mesmo. Tal como na Grã-Bretanha e EUA, o sistema “democrático” francês é de mistificadora eleição por círculos (e para mais, em 2 voltas, para que não haja surpresas). Assim, cada círculo só elege um deputado, mesmo que por divisão de votos com a concorrência, o vencedor até tenha menos de 30% dos sufrágios. Isso permitiu a Macron e à sua equívoca agremiação elegerem uma maioria absoluta de 308 deputados, num total de 577! Repito, com apenas 32% na 1.ª volta. Os Republicanos lá elegeram 113; o PS, 30; Mélanchon, 42; e a Frente Nacional, 9 (correspondentes a 13% na 1.ª volta).
3 – “En marche”, quiçá um partido para nómadas). Tal como o nosso querido dr. Costa (em Portugal), parece que quem está por trás do lançamento de Macron na grande Política, gosta de gozar com “pequenos” detalhes importantes (até porque, simbólicos), divertindo-se com o facto de esses pequenos-grandes truques passarem totalmente despercebidos ao grande público.
Assim, e partindo do princípio de que o principal problema de França nas últimas décadas, é o ter admitido um n.º inaudito de imigrantes africanos e muçulmanos (sobretudo da Argélia, Marrocos e Tunísia, 11% da população), o facto de o partido lançado por E. Macron ter o nome de “La France en marche” parece indicar ser-lhes primacialmente dedicado… Melhor seria até, que se chamasse “En marche vers la France”. “En marche”, por quê? A França vai para algum sítio? Vai voltar a África e retomar as antigas colónias, p. exemplo? Ou então, será que Macron é um revolucionário? Não é: é um ultra-liberal muito mal disfarçado; e à partida nada apelativo a um eleitorado que, se quisesse “sair do sítio” para um lugar melhor, votaria era na bela e distinta Marine, uma política com substância e conteúdo.
4 – Semelhança com outras “marchas”). O nome inventado por Macron parece querer fazer comungar a bela, rica e plácida França com a invasiva onda de refugiados (verdadeiros e falsos) trazidos recentemente para a Europa pelos ricos traficantes sem escrúpulos, da Líbia e do Médio Oriente. Ou inspirar-se em Moisés e na fuga do Egipto. Ou na antiga vagância da comunidade cigana. Decerto não se inspira na “marcha sobre Roma” de Mussolini (1922). Nem nas migrações do séc. XIX, empreendidas pelo povo bóer da África do Sul, em direcção aos estados do Orange e Transvaal (os famosos “treks”, comandados por Kruger, Pretorius, De la Rey, etc.). Para Macron, os últimos são até verdadeiros anti-heróis.
5 – A arte de vampirizar a França). Uma França que rejeita Marine e elege um “jovem-velho “ Macron (e com o dobro dos votos!), está certamente doente. Ou é isso ou é o facto de o eleitorado francês já incluir tantos eleitores geneticamente “não-franceses”, os quais se atemorizam com a ideia do triunfo absoluto dos interesses duma Pátria (concreta, francesa), que não sentem de modo algum como sua. Mas como sua inimiga (e é óbvio que aqui não falo da bem entrosada comunidade portuguesa).
6 – Consequências). Sendo assim, estamos perante de um problema grave, gerador potencial de futuros novos conflitos, de dimensão incógnita. Se aos franceses não lhes interessa tomar posse da sua França, talvez isso venha a interessar futuramente a algum dos seus vizinhos (Itália, Espanha, Grã-bretanha, Alemanha). Já aconteceu. E várias vezes…
Autor: Eduardo Tomás Alves