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Lições do Coronavírus

1. É importante saber ler os sinais dos tempos. Saber interpretar um sem número de mensagens que nos vão chegando. A pandemia do coronavírus é um desses sinais e uma dessas mensagens. Que recados nos traz? Cada um fará a sua leitura. Faço a minha. 2. O grande recado, na minha perspetiva, é um convite a que paremos e reflitamos sobre o sentido que damos à vida. Por que vivemos? para quem, para quê e como? A que damos mais valor? Saber parar. Arranjar tempo para parar. Se o não procuramos, ele impõe-se-nos, como aconteceu agora. A vida não deve continuar a ser um corre-corre. 3. O coronavírus lembra que não adianta acumular coisas – sejam carros de luxo, sejam relógios de marcas consagradas, seja o que for – se, em momentos cruciais, não servem de nada. Apenas tornam mais doloroso o momento da partida, se for hora de partir. Partir, queiramos ou não, é deixar. Acumular, para quê? Não é muito melhor contentarmo-nos com menos e sabermos repartir? 4. Fazendo-nos parar, o coronavírus lembra que o trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho. Levou a casa. Fez dar à família horas de convívio que lhe tinham sido recusadas. Convidou a recompor a família e a investir no bom ambiente familiar. Trouxe tempo para entrarmos em nós mesmos. Para humanizarmos a vida. Para lermos um bom livro. Para ouvirmos um bom trecho de música. Para rezarmos sem pressa. 5. Mostra a necessidade de revermos a nossa escala de valores, a nossa lista de prioridades. Põe a descoberto falsas seguranças. Diz-nos ser necessário ter a coragem de apear ídolos. Em momentos cruciais como estes não são eles que nos valem. Mostra como devemos apreciar o trabalho dos profissionais de saúde, das pessoas que não faltam com o necessário para a nossa subsistência, dos que se dedicam aos cuidados de higiene e de limpeza. Quantas vezes não são remunerados condignamente e veem recusadas as necessárias condições de trabalho! Põe em relevo o valor da solidariedade e do voluntariado. Mostra que ninguém se salva sozinho. Alerta para o limitado das capacidades humanas. Revela como é descabido haver quem se julgue superior aos outros: ele não faz aceção de pessoas. Mostra que a saúde e a qualidade de vida são bens a preservar. Que são mais úteis à humanidade hospitais bem equipados do que obras faraónicas ou vistosos campos de futebol. Convida a rever a forma como utilizamos os bens de que dispomos, desde o tempo ao dinheiro. A pensar no modo como são geridos os dinheiros públicos. A dar a primazia ao que realmente é essencial e mais útil para a comunidade. Vejo no coronavírus o aviso a que se coloque a pessoa humana no centro das preocupações. A que se controle a obsessão do lucro. A que se construa uma economia ao serviço de todo o homem e do homem todo. A que se preste atenção ao setor da economia social. A que se ponha em prática uma verdadeira justiça social, de modo que deixe de haver pessoas sem um teto sob que se abriguem. A que se faça ouvidos surdos a falsas necessidades criadas pela sociedade de consumo que se serve das pessoas sob a aparência de as servir. 5. Leva a pensar no apoio aos idosos. No escândalo das reformas de miséria e das pensões milionárias. Nos lares a funcionarem como arrecadações. Nas vantagens de um bom serviço de apoio domiciliário. Mostra que ninguém é dono da própria vida nem da vida dos outros. A insensatez da prática do aborto e das campanhas a favor da eutanásia e do suicídio assistido. Que é criminoso gastar para fazer morrer recursos necessários para ajudar a viver. 6. Que este flagelo desapareça. Saibamos assimilar as lições que nos traz. Muita coisa deve mudar na nossa vida individual e coletiva a favor de uma sociedade verdadeiramente humana, fraterna, justa, solidária. A favor do respeito pela casa comum, a Natureza.
Autor: Silva Araújo
DM

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16 abril 2020