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Liberdade de imprensa e pós-verdade

Também é publicamente reconhecido que, aquando das suas funções de primeiro-ministro, José Sócrates montou uma central de comunicação e informação de insólita operacionalidade e eficiência: a ponto de fazer passar publicamente uma imagem de governante e cidadão exemplar e impoluto que acaba; por se impor como verdade inquestionável e universal.

Todavia, sempre ao longo dos tempos, o poder, sobretudo o político, exerceu sobre os meios de comunicação social um evidente e sólido domínio e fascínio; e bem capaz de os sonegar, censurar e calar, quando sobre eles não consegue impor o desejado controlo; por isso, frequentemente se assiste ao assassinato, à prisão, ao rapto, à tortura e perseguição de repórteres e jornalistas por esse mundo fora.

Mesmo considerado o quarto poder, a Comunicação Social sempre tem vivido sobre pressão e vigilância apertada de lobbies; e, como resultado desta falta de liberdade, os diretores, editores e jornalistas sentem-se incapazes de exercerem a sua atividade com isenção, objetividade, rigor e verdade; e, sem liberdade de imprensa, as pessoas não gozam do acesso devido à informação e, assim, não podem tomar decisões responsáveis, conscientes e livres; e esta falta de liberdade de comunicar e informar tem a sua mais nefasta origem no monopólio que é imposto pelas multinacionais da informação ou seja pelas grandes agências noticiosas.

Modernamente, as redes sociais correm o perigo de se transformarem num veículo global de manipulação e distorção da verdade – a pós-verdade – que nos pode arrastar para o bloqueio imponderável do pensamento livre; e isto a nível político é já tão real que, facilmente se faz passar como verdade o facto alternativo, a mentira, a ilusão; e, mais grave ainda, despoleta fenómenos de populismo com toda a sua carga ditatorial e antidemocrática.

Tenho fundadas esperanças que a Comunicação Social vai resistir a estas investidas manipuladoras, castradoras e totalitárias; e isto porque tem já ao seu serviço muitos profissionais avisados, independentes e autónomos, capazes de praticar uma informação livre, rigorosa e responsável; tanto mais que possuem já uma informação superior, adquirida nas melhores universidades do país e do estrangeiro.

Pois bem, só esta informação e comunicação impedem os abusos e desmandos do poder; e, mormente, olhando à nossa volta, sem esta liberdade de imprensa, os crimes de colarinho branco ou não existiam ou facilmente negligenciados e esquecidos eram. 

Porém, o poder económico continua a ser o pior inimigo da uma comunicação social independente e livre; e, então, quando o poder económico se alia ao poder político, caminhamos para o totalitarismo ideológico e social de que pode ser já um exemplo acabado a eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos da América. 

Ora, contra este estado de coisas o jornalismo de investigação, que timidamente se vai impondo, denunciando e acusando, os casos de abusos de poder, os crimes económicos e sociais, a lavagem de dinheiro, a evasão fiscal, o branqueamento de capitais e a corrupção passiva e ativa surge como festejado guardião da liberdade de imprensa; e a garantir a independência e o amor à verdade dos profissionais da Comunicação Social do futuro. 

Agora podemos melhor perceber porque é que o advogado de José Sócrates na Operação Marquês, João Araújo, tenta com o seu abjeto terrorismo verbal, desmobilizar, desencorajar e, até, calar a jornalista que o interpelou. 

Então, até de hoje a oito.

 

Autor: Dinis Salgado
DM

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5 abril 2017