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Lavar os pés aos irmãos e confirmá-los na fé

Perante o eclipse de fé que Pedro sofre face ao anúncio da Paixão, Jesus responde que, longe de o abandonar, como por vezes nos sugere o Tentador ou Satanás, está mais que nunca presente com o melhor dos auxílios: a sua oração ao Pai em nosso favor. Aliás, pede-nos que rezemos sempre e peçamos «não nos deixeis cair em tentação». Na carta aos Romanos (8,34)  afirma-se claramente: «Cristo está à direita do Pai e intercede por nós».

A lavagem dos pés a Pedro é um facto fundamental na vida da Igreja. O mal tem a sua origem num  acto de orgulho espiritual e nasce da soberba de uma criatura perfeita, Lúcifer. «No caso de Pedro, Jesus não teme a sua fragilidade de homem pecador nem o seu medo de caminhar sobre as águas no meio da tempestade. Teme, sim, a discussão sobre qual deles é o maior». A fé de Pedro é passada a pente fino na tensão entre o desejo de ser leal, de defender Jesus, e o desejo de ser o maior e também a tripla negação, a cobardia e o sentir-se o pior de todos. «O Senhor reza para que a fé de Pedro não se eclipse nestes momentos, em que olha para si para se fazer grande, para se desprezar ou permanecer desconcertado e perplexo.

Pedro define-se a si mesmo como 'testemunha dos sofrimentos de Cristo' (I Pd, 5, 1). e na segunda carta (3, 1) diz que a escreve para tornar a reacender a maneira justa de pensar. No étimo grego, quer dizer chegar a obter um juízo tão perfeito que pareça iluminado por um raio de sol, precisamente a graça contrária ao eclipse da fé. A graça que o permite vencer.

Não tenhamos ilusões sobre o modo como pode crescer a nossa fé em Cristo morto e ressuscitado. Só acontecerá na medida em que nós resistirmos e vencermos, com a sua graça, as tentações e provações da vida. Toda a vida de Simão Pedro pode ser vista como um progresso na fé, graças ao acompanhamento do Senhor, que lhe ensina a discernir, no seu próprio coração, aquilo que vem do Pai e aquilo que vem do demónio.

Papa Francisco desafia-nos a ler a passagem do diálogo de Jesus ressuscitado com Pedro em que lhe pergunta se o ama mais do que os outros – na 1ª vez- ; simplesmente se o ama, na 2ª, e se é seu amigo, na terceira (Jo 21, 15 – 17) à luz de Lc, 22, 62, que mostra como Jesus, só com o olhar amigo que lhe dirigiu, o leva a chorar amargamente, manifestando todo o sincero arrependimento. Quando lhe pergunta simplesmente: ' tu amas-me?', está a retirar de Pedro qualquer desejo de rivalidade e de grandeza, para de seguida poder responder com verdade à 3ª pergunta: 'tu gostas de mim como amigo?' que é aquilo que Pedro mais desejava e mais estava também no coração de Jesus que acontecesse. Porque, onde há verdadeiro amor de amizade, não há lugar para  reprovações ou correcções. A amizade é amizade « e é o valor mais alto que corrige e melhora tudo o resto, sem necessidade de falar do motivo». Porque talvez seja a maior tentação do demónio insinuar em Simão Pedro a ideia de que não é digno de ser amigo de Jesus, porque o tinha traído. Mas o Senhor é sempre fiel. E renova continuamente a sua fidelidade. A amizade possui esta graça: que um amigo que é mais fiel pode, com a sua fidelidade, tornar fiel o outro que não o é tanto. E se se trata de Jesus, Ele, mais do que qualquer outro, tem o poder de tornar fiéis os seus amigos.

No cuidado pastoral, é absolutamente essencial reforçar os outros na fé em Jesus, que nos ama como amigos. E a isto se refere  Pedro dirigindo-se à comunidade dos crentes: «Vós amais Cristo sem O terdes visto, e acreditais nele... e esta fé faz-nos exultar de uma alegria indizível e gloriosa, seguros de atingir a meta da nossa fé: a salvação das almas». (I Pd, 1, 7-9)

Simão Pedro é o verdadeiro paradigma de quem se deixa confirmar na fé pelo seu Senhor, para poder confirmar na fé os seus irmãos. Também nós, tendo presente o olhar e amor de amizade do Senhor, que nunca deixa de o ser, podemos deixar-nos desafiar cada dia a crescer na fé, sem vergonha ou medo das nossas infidelidades que, confessando-as, nos ajudam a reacender em nós o amor primeiro, que é sempre o amor fiel e misericordioso de Deus por nós.

Sem  descobrirmos este olhar de amizade de Jesus ressuscitado, a Páscoa passar-nos-á ao lado. Tendo-o sempre bem fixo sobre nós, seremos luz para os outros. Acontecerá realmente Páscoa.

Neste dia de inauguração das novas instalações do nosso «Diário do Minho», um abraço sincero ao grande obreiro desta feliz descoberta, que também é a melhor prenda que poderia ser dada para o aniversário que ocorre no próximo sábado, dia 15. Parabéns, cónego Fernando Monteiro! Parabéns a todos os que fazem o jornal!

Uma santa Páscoa!


Autor: Carlos Nuno Vaz
DM

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9 abril 2017