No passado dia 3 do corrente mês, começou o Sínodo dos Bispos sobre a Juventude, com a Missa de abertura da assembleia, presidida pelo Santo Padre, o Papa Francisco, na Basílica de S. Pedro, às 10h00. O tema é: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
Em boa hora, a Igreja se dedica de forma tão explícita a esta temática muito relevante na nossa sociedade, não só pela juventude ser a fase da evolução humana onde se prepara o futuro com mais esperança e mais abertura, como também por haver sintomas inquietantes de afastamento dos jovens da fé e da vivência cristã.
A problemática exige, sem dúvida, coragem para estudar os assuntos e enfrentar situações que, infelizmente, não afectam só a Igreja, como toda a sociedade onde ela se insere e exerce a sua missão.
Um dos problemas mais agudos é, sem dúvida, a fraca natalidade existente em todos os países do mundo, com principal incidência no nosso continente e também no continente americano.
Dir-se-ia que a civilização ocidental estudou com muito pormenor todos os problemas sociais e económicos, que produzem o bem-estar existencial dos seus povos, mas esqueceu-se de enfrentar uma realidade óbvia: a sociedade humana não é perene em relação aos seus membros actuais. Estes envelhecem e precisam de ser renovados pelos descendentes, que assim garantem a continuidade da sua existência.
Quando a tendência natalista aponta para situações, onde aparece à cabeça o bem-estar económico dum casal, em detrimento de todos os outros que exigem generosidade, gosto por educar, variedade de prole, etc., os resultados são muito chamativos: inverte-se a pirâmide etária, com um crescimento assustador da população idosa e um decréscimo exuberante da população jovem.
Aliada a esta tendência não pode esquecer-se também o desmerecimento e a pouca importância com que se encara a unidade e a estabilidade da vida matrimonial.
Quando se dá idêntico valor legislativo a uma união de facto, em si mesma volúvel e incerta, ou a um matrimónio registado na conservatória civil, que só dura o que os elementos do casal decidirem, não se convida os seus executores a procriar, mas a procurar viver em paz e sossego entre si, salvo se algumas incompatibilidades ou dissonâncias afectarem de modo incomodativo a sua convivência conjuntural. Se assim sucede, como que se incita a que cada um siga o seu caminho em separado, sem grandes complicações.
Com certeza que este Sínodo, tão oportuno, não deixará de reflectir sobre e a situação dos jovens dentro do seu agregado familiar, que é berço de fé e de tantas virtudes que, de um modo natural e adequado, os pais, com o seu exemplo, e a própria vivência familiar sadiamente cristã, incutem nos seus membros.
De notar que toda a pessoa que nasce não aparece no mundo por acaso, mas por explícita vontade divina, que pensou em cada um de nós, desde a eternidade, para sermos santos, como afirma S. Paulo (Ef., 1, 3-4). Toda a gente traz consigo esta vocação divina para a santidade.
E a grande maioria para que ela se realize como Iavé ensinou aos nossos primeiros pais: “Crescei e multiplicai-vos e enchei a terra” (Gén 1, 28). Não admira, por isso, que Cristo tenha acarinhado esta tendência da maior parte dos seres humanos, com a graça sacramental do matrimónio, que assim facilita e incrementa a santificação dos cônjuges.
O discernimento vocacional não se limita, assim, como algumas pessoas supõem, a considerar aquelas formas através das quais alguns cristãos são interpelados por Deus para ser santos. Referimo-nos, em concreto, às que orientam um homem ou uma mulher por um caminho específico, que tem no chamado celibato apostólico a sua realização. É o caso dos sacerdotes, pelo menos na Igreja de Rito Latino, de alguns leigos e dos que seguem o caminho da entrega religiosa.
Se houver muitos casais cristãos que sejam generosos na prole que Deus está disposto a conceder-lhes, se encararem o nascimento de cada filho como uma manifestação da confiança que a providência divina neles deposita como seus colaboradores na vinda ao mundo de um novo ser que se destina à felicidade eterna, a sua vida matrimonial ganhará os verdadeiros contornos da entrega verdadeira e do sentido sobrenatural que a santidade exige.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
Juventude, vocação e sínodo

DM
8 outubro 2018