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Justiça humana e justiça divina

Nesta manhã, ao abrir o meu telemóvel, numa das muitas secções que ele permite consultar, fui confrontado com a notícia da condenação de uma importante figura da política brasileira, arguido num processo de corrupção que tem sido muito tratado e esmiuçado nos meios de comunicação social.

Pelos vistos, suscitou de imediato no seio dos seus apoiantes a organização de um protesto a contestar, mais, a condenar a sentença anunciada. A poucos metros desse lugar, de acordo com o que entendi da informação, havia outro ajuntamento de pessoas, satisfeitas com o teor da referida condenação e que assim tentavam sublinhar o seu apoio ao funcionamento da justiça. Não creio que tenha havido confrontos violentos entre as duas facções, tanto mais que, seguindo as informações que se davam, abrangiam, quer uma quer outra, um número reduzido de manifestantes. Entrevistadas, como é de bom-tom, duas partidárias – uma de cada cor – davam as suas razões: num caso, de revolta pela sentença proferida e, noutro, de concordância com a mesma sentença.

O meu primeiro pensamento foi o de que devemos aceitar os ditames que a justiça humana é capaz de concretizar, supondo que há honestidade nos meios e nas pessoas que se encarregam destas tarefas. Além de que, os arguidos ou mesmo os condenados sempre podem meter um recurso, que, por vezes, lhes resulta favorável.

É complexo, no entanto, o mundo da justiça humana. Como se vê pelas reacções deste caso tão paradigmático, há quem proteste contra o que se determina e há quem se rejubile com o determinado. Duas posições antagónicas, que nos fazem supor que isto da justiça que se exerce entre nós, não é infalível, sujeitando-se a erros de apreciação, lapsos de sentença, enfim, ela sofre das mesmas contingências e limitações que todo o ser humano apresenta, não pondo em causa, porém, a hombridade e a imparcialidade do trabalho que se realiza nos tribunais e de quem tem de exercer funções judiciais.

Pensei – e parece-me que tenho razão – que para não haver quaisquer dúvidas sobre as sentenças que se proferem, os juízes deveriam ser perfeitos no conhecimento e na compreensão dos dados que os levam a sentenciar de um ou de outro modo. Também supus que, perante uma determinação judicial publicada, as simpatias, as cores políticas, as impressões de apreço ou de hostilidade, a experiência da vida, etc., são factores muito condicionantes das reacções das pessoas em relação ao acerto da decisão.

Foi então que, tendo em conta o que vai suceder a cada um de nós no final da nossa vida terrena, fiquei em paz e tranquilidade, por recordar que o nosso juiz não tem limitações ou enganos de conhecimento e de compreensão, porque é omnisciente, isto é, absolutamente perfeito e exaustivo na forma de conhecer e compreender o que quer que seja.  Nos seus juízos não há possibilidade de erro e, mais ainda, as suas sentenças, por gozarem do dom da omnisciência, são perfeitas não só em si mesmas, mas em relação à pessoa que é julgada. Isto é, perfeitamente justas e adequadas.

A tranquilidade e a paz aumentaram ainda, quando consciencializei que tal juiz – Jesus Cristo – é o nosso melhor amigo, que não descansou enquanto não reconquistou, com a Redenção, para todos os homens  de todos os tempos, aquelas duas condições (dons divinos), a graça de Deus e a filiação divina, que nos permitem atingir a finalidade da nossa criação, que é a felicidade eterna, ou, se quisermos, em expressão mais terra a terra, ir para o Céu.

Enfim, e como me senti ainda mais recompensado, quando me veio à memória aquela cena tão elucidativa, em que S. Pedro pergunta ao Senhor se a bitola do perdão das ofensas devia ir, no máximo, até sete vezes. E Cristo respondeu: “Não sete vezes, mas setenta vezes sete”... Que categoria ímpar de juiz o nosso! Sabe tudo na perfeição e perdoa-nos sempre que, com arrependimento, Lhe peçamos desculpa pelas coisas que devíamos ter feito e não fizemos, ou pelas coisas que não devíamos ter feito e fizemos! Jesus sabe inteiramente o que somos e como somos. Por isso, recordando a Escritura, sentenciou, para nos acalmar, que o “justo peca sete vezes por dia”.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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16 julho 2017