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Jesus Cristo Expulsa os Vendilhões

Testemunham os 4 Evangelhos do Novo Testamento. Cristo utiliza a força física. Evangelho segundo S. João: 2:13-16; S. Marcos 11:15-19; S. Mateus 21:12-17; S. Lucas 19:45-48. Quando ia começar a escrever este artigo, aconteceu-me um facto curioso: abri a Bíblia Sagrada, Missionários Capuchinhos, 14.ª Edição, Lisboa, 1988, Coimbra, à sorte, sendo certo que tentei ir para o fim do livro, e calhou-me exactamente a página da versão de São Mateus (!).

Belíssima partida: «“Jesus entrou no Templo, expulsou dali todos os que nele vendiam e compravam, derrubou as mesas dos cambistas e as bancas dos vendedores de pombas, dizendo-lhes: “Está escrito: ‘A minha casa há-de chamar-se casa de oração; mas vós fazeis dela um covil de ladrões”. Aproximaram-se d’Ele, no Templo, cegos e coxos, e Ele curou-os. Perante os prodígios que realizava e as crianças que gritavam no Templo: “Hosana ao Filho de David”, os príncipes dos sacerdotes e os escribas ficaram indignados e disseram-Lhe: “Ouves o que eles dizem?” “Sim, respondeu Jesus. Nunca lestes: Da boca dos pequeninos e das crianças de peito procuraste o louvor?”. Depois, afastou-Se deles, saiu da cidade e foi para a Betânia, onde pernoitou”».

Não deixa de ser importante referir que tudo isto se passou durante a Páscoa Judaica, a qual todo o mundo pacífico respeita. O Templo é também o nosso próprio interior. Mas também pode ser a nossa Igreja, casa, rua, freguesia, cidade, concelho, distrito, país, comunidade económica europeia ou internacional, mundo, sistema solar, galáxia, universo, o passado, presente, futuro. O Templo é também o tempo. E o tempo é o templo.

E o tempo pode ser bom, mau, neutro ou mistura em simultâneo. Que o digam os milhões e milhões de vítimas de todo o mundo, quer por causa de perseguições bestiais de outros seres humanos, quer por motivo de cataclismos naturais ou artificiais, causados por acidentes. E o pior tempo é por vezes o tempo dos sobreviventes, dos familiares, dos amigos e conhecidos, de todos aqueles que ficam deprimidos ao ler as notícias. Para quando a expulsão dos vendilhões do Templo e do Tempo? Nomeadamente, no mundo? Só refugiados, são 65,6 milhões (ONU, 19/6/17). "Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer, Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?" (S.Marcos 15:34), Salmo 22, N.T.. 215 milhões de cristãos estão a ser perseguidos neste momento, muitos são humilhados, violados, torturados e mortos.

Mas também crentes de outras religiões, agnósticos e ateus foram são perseguidos. Outros milhões são vítimas de doenças - muitas vezes pessoas de bom coração e alma, que mereciam tudo menos isso -, e catástrofes naturais ou artificiais como acidentes… Em guerras como a da Síria, muitos vendedores de armas fazem fortunas, bem como traficantes de seres humanos e obras de arte roubadas, entre outros cancros éticos e morais.

Numa altura em que os apoios dos contribuintes portugueses ao sector financeiro já vão em €17.000 milhões, a acrescer ao perdão escandaloso de milhões de euros à incumbente da electricidade (a 2ª mais cara da Europa), e ao perdão de centenas de milhões de euros a clubes de futebol e a dirigentes desportivos (aqui não interessa o clube: podia ser qualquer um), com salários e carreiras estagnadas desde 2004, com suspeitas de graves crimes de corrupção e de gozo com a própria Justiça portuguesa, com empresas asfixiadas, num país como Portugal com 2,6 milhões de pobres (no Brasil e em África, Moçambique e lusofonia, os números são inimagináveis), para quando a expulsão dos novos vendilhões do Templo?

É que a Páscoa é uma renovação contínua: Santa Páscoa! E, como há entre vós, quem sabe bem melhor do que eu: se a Esperança e a Fé procuram a sua própria superação, já a Caridade e o Amor são trabalhos honrados a fazer, qualquer que seja o mundo em que nos encontremos, antes da vida, durante a vida e após a morte terrena. São infinitos, até no céu. Em Portugal, ou no mundo, muitos dizem-se cristãos, mas na realidade são pagãos.


Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira
DM

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6 abril 2018