No passado dia 6 de dezembro, o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou ao mundo que Jerusalém é a capital de Israel, ordenando a mudança da embaixada americana de Telavive para a Cidada Santa das três religiões monoteista (judaismo, cristianismo e islão). Essa provocadora e irresponsável declaração unilateral, de profundas e graves consequências, motivou um generalizado protesto em toda a comunidade internacional, deixando Israel num profundo isolamento. Dramáticamente, Donald Trump não esclareceu qual é afinal a sua proposta para a solução do conflito israelo-palestiniano, bem como para a paz no Médio Oriente.
No dia 29 de Novembro de 1947, as Nações Unidas aprovaram o Plano de Partilha da Palestina em dois Estados: um judaico e outro árabe, com fronteiras bem definidas, uma união económica entre os dois Estados e a internacionalização de Jerusalém, administrada pelas Nações Unidadas.
Desde 1948, o retorno gradual do povo Judeu ao Sião teve como consequência a deslocação de milhares de Palestinianos não só da sua pátria como de Jerusalém. Assim, o Estado de Israel passou o fardo pesado do exílio, que os judeus tinham sofrido, para os Palestinaianos.
Em 1967, na chamada Guerra dos Seis Dias, Israel, pela força das armas, conquista e anexa Jerusalém Oriental (o lado árabe) onde se econtram os mais importantes lugares das três religiões monoteistas: o Muro das Lamentações (judaismo), a Mesquita da Al - Aqsa (islão) e Santo Sepulcro (cristianismo).
Em 1980, o Knesset (parlamento) israelita ratificou essa anexação da parte árabe, declarando unilateralmente Jerusalém capital de Israel “una e indivisível”. À política de ocupação e colonização israelita, o povo Palestiniano tem reagido com manifestações de protesto e desde 9 de dezembro de 1987, passou a fazê-lo através da inssurreição popular conhecida por Intifada (guerra das pedras). Internacionalmente, a Intifada conseguiu resultados extraordinários, pois, no mundo inteiro, o público em geral passou a ter conhecimento da natureza agressiva da ocupação israelita de Jerusalém e dos restantes territórios, ao ver soldados judeus armados a perseguirem crianças que os apedrejavam e a disparar contra eles. A Intifada fortaleceu igualmente o movimento israelita a favor da paz, pois demonstra a vontade irredutível dos Palestinianos em conseguirem a independência e autodeterminação de forma demasiado eloquente para lhes ser negada. Vale a pena recordar o teor da declaração de 70 israelitas proeminentes, incluindo escritores, críticos, artistas e antigos membros do Knesset, assinada em 1995:
“Jerusalém é nossa, dos Israelitas e dos Palestinianos - muçulmanos, cristãos e judeus.
A nossa Jerusalém é um mosaico de todas as culturas de todas as religiões e de todas as épocas que enriqueceram a cidade, da mais recuada antiguidade até ao presente - Cananeus, Jebuseus e antigos israelitas, judeus e Helenos, Romanos e Bizantinos, cristãos e muçulmanos, Árabes e Mamelucos, Otomanos e Bretões, Palestinianos e actuais Israelitas. Estes e todos os outros que deram o seu contributo para a cidade têm um lugar na sua passagem espiritual e física.
A nossa Jerusalém deve ser unida, aberta a todos e de todos os seus habitantes, sem fronteiras e sem arame farpado pelo meio.
A nossa Jerusalém deve ser a capital dos dois Estados que viverão lado a lado nesta terra - Jerusalém Ocidental, capital do Estado de Israel e Jerusalém Oriental, capital do Estado da Palestiniano.
A nossa Jerusalém deve ser a capital da paz. (cf. Karen Amstrong, in “Jerusalém, Uma Cidade, Três Religiões” - 373 - Temas & Debates).
Outras soluções têm sido propostas. Uma delas bem simples, semelhante àquela que foi encontrada para o Estado do Vaticano, nos Tratados de Latrão de 1929: uma só cidade com uma administração e duas soberanias: Itália no lado esquerdo do rio Tibre, Cidade do Vaticano no lado direito. Mas, se os princípios subjacentes às negociações israelo-palestinianas não forem claros e aceites de boa fé, as soluções para a paz continuarão a ser utópicas.
Autor: Narciso Machado
Jerusalém - uma cidade, três religiões
DM
12 dezembro 2017