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In Memoriam Padre António Oliveira Fernandes: — foi tão bom tê-lo com todos nós!

O Padre Doutor António Oliveira Fernandes faleceu este Domingo, dia de Cristo Rei (22 de Novembro), aos 77 anos, após várias semanas de grande sofrimento, no Hospital de Ponte de Lima.

A este Homem e Mestre que nasceu em S. João da Ribeira, concelho de Ponte de Lima, em 15 de Abril de 1943, filho de Manuel José Fernandes e de Lucinda Martins de Oliveira apenas diremos: Muito obrigado. Foi tão bom tê-lo connosco, a nosso lado, acompanhando o nosso crescimento humano, cultural e religioso!

Lembramos, em seguida, alguns momentos que marcam a sua vida e — por consequência – são pedacinhos da nossa. Sim, porque uma das suas maiores riquezas era a de não abandonar os alunos, após a conclusão dos estudos, como é prova a participação nos convívios do grupo Fa La Do, que com uma periodicidade notável reúnem antigos alunos dos Seminários de Braga ou a sua adesão às actividades da Associação dos Antigos Alunos dos Seminários de Braga (ASSASB).

Socorrendo-nos de um texto de outro grande Mestre nosso (Professor Jorge Coutinho) publicado na Revista Theologica, retemos aqui algumas das marcas da vida do Professor António de Oliveira Fernandes que sempre guardou sua aldeia natal, “com a sua idílica paisagem debruçada sobre o rio Lima uma notória nostalgia, dando a impressão de só nela se sentir verdadeiramente chez soi e fora dela sempre se experimentar um exilado”.

Os caprichos da vida trouxeram-no para Braga, ainda criança, em Outubro de 1954, para cultivar a vocação sacerdotal no Seminário Arquidiocesano de Nossa Senhora da Conceição, onde se faziam os quatro primeiros anos dos estudos preparatórios. Tendo passado sucessivamente pelos Seminários de Santiago e Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, para os estudos, respectivamente, de Filosofia e de Teologia, recebeu a ordenação sacerdotal em 25 de Setembro de 1966, das mãos do Arcebispo Primaz D. Francisco Maria da Silva.

Fora aluno brilhante. Tendo isso em conta e em ordem à renovação do corpo docente dos Seminários, depois de ter exercido no Seminário de Nossa Senhora da Conceição funções de prefeito e professor (1966-1970), em 1971 foi enviado para Roma, a fim de estudar Filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana. Aí obteve o grau de Licenciatura em 1973 com a classificação de «magna cum laude».

Regressado a Portugal, em 1973 foi nomeado Vice-Director do Seminário de Nossa Senhora da Conceição e em 1974 Vice-Reitor do Seminário de Santiago.

Entretanto, na sequência da Revolução de Abril, a descolonização obrigara muitos milhares de portugueses residentes nas Colónias africanas a regressarem à Pátria, muitos deles totalmente desamparados. A Arquidiocese de Braga acolheu dezenas deles nas instalações deste Seminário para acolhimento de centenas de refugiados.

A comunidade dos seminaristas passou então (1975) para o Seminário da rua de Santa Margarida, onde ficaram instalados como comunidade educativa autónoma, embora na (boa) vizinhança dos alunos de Teologia; e o seu Vice-Reitor acompanhou-os, continuando ali as suas funções, que exerceu durante apenas esse ano lectivo.

Nesse ano acumulou a actividade de professor liceal de Religião e Moral Católica (Liceu Sá de Miranda, de Braga), passando depois a leccionar na mesma escola Filosofia e Psicologia (1976-1980).

Em 1980, o então Reitor em exercício, P.e Dr. Jorge Coutinho, pediu dispensa do seu cargo, por razões de saúde, o P.e Dr. António de Oliveira Fernandes foi nomeado, pelo Arcebispo D. Eurico Dias Nogueira (1977-1999), Reitor titular, cargo que exerceu durante uma década (1980-1990). Desempenhou entretanto outras funções de relevo: Vigário Episcopal para a Doutrina da Fé (1981-1985); Presidente das Comissões Arquidiocesanas de Liturgia e Música (1981-1985); Delegado Episcopal para o Diaconado Permanente (1995).

Em 1982 o Arcebispo nomeou-o Capitular da Sé de Braga, tendo assumido a «dignidade» de Tesoureiro-Mor do Cabido em 1987, passando à de Chantre em 2003.

Em 2004 é nomeado Assistente Eclesiástico da Associação Cristã de Empresários e Gestores Católicos (ACEGE), na sua secção de Braga.

No plano académico cabe aqui referir, antes de mais, a sua preparação.

Em 1990 foi exonerado do cargo de Reitor do Seminário Conciliar a fim de se dedicar à investigação em ordem ao Doutoramento. Obteve este grau, concedido pela Universidade Católica Portuguesa, em 1996, tendo prestado as respectivas provas públicas na Faculdade de Filosofia de Braga, com defesa da dissertação «Paul Ricoeur: Sujeito e Ética» e a aprovação final «com distinção e louvor».

O seu trabalho académico a nível superior iniciara-se no Seminário Conciliar, cuja escola teológica obteve em 1977 o estatuto de Instituto filiado na Faculdade de Teologia de Lisboa (UCP), assumindo a designação oficial de Instituto Superior de Teologia de Braga e funcionando como tal durante dez anos (1977-1987). Era dado um dos maiores saltos qualitativos para o reconhecimento dos estudos dos alunos dos Seminários de Braga, certificados agora pelo Estado português. Muitos de nós não imaginamos a importância que esta batalha teve para tantos jovens do Minho.

Leccionou aí, desde 1973, algumas disciplinas muito do seu gosto pessoal, como Cosmologia Filosófica, Antropologia Filosófica e Antropologia Biológica.

Em 1987 a escola teológica de Braga, do mesmo modo que a do Porto, foi incorporada numa (única) Faculdade de Teologia, desde então visivelmente ampliada e valorizada, como um dos seus três núcleos.

Em 1996, tendo o Prof. Pio Alves de Sousa sido chamado, desde 1994, para exercer em Lisboa o cargo de Vice-Reitor da Universidade Católica e estando a acumular com o de Director-Adjunto do núcleo de Braga da Faculdade de Teologia – o Prof. Oliveira Fernandes assumiu as funções de seu sucessor como Director-Adjunto deste núcleo, até 2002.

Sob o estatuto da Faculdade de Teologia em sua extensão de Braga, leccionou uma razoável variedade de unidades curriculares: Cosmologia, Psicologia Científica, Antropologia Filosófica, Antropologia Biológica, História da Filosofia Antiga, História da Filosofia Contemporânea. Orientou seminários. Foi membro de júris de mestrado e de doutoramento, incluindo, a este nível, as provas públicas de Paula Carvalho com a dissertação «A Responsabilidade na Obra de Paul Ricoeur», na Universidade de Lisboa, onde teve a oportunidade de conhecer a pessoa (ainda viva e ali presente) daquele grande mestre da Hermenêutica Filosófica (1999).

No seu percurso académico devem ainda registar-se coisas como a participação nas Segundas Conferências Internacionais de Filosofia e Epistemologia, promovidas pelo Instituto Piaget, em Viseu (1997), onde apresentou uma comunicação sobre «O passado e o futuro no presente da decisão»; e a organização de quatro Semanas de Estudos Teológicos, promovidas pelo núcleo de Braga da Faculdade de Teologia da UCP (1996-1999).

Foi membro, por inerência, do Conselho Científico da Faculdade de Teologia (desde 1996), da Comissão Instaladora do Centro Regional de Braga da UCP (1999-2002), do Conselho Científico da Faculdade de Ciências Sociais da UCP-Braga (desde 2007), do Conselho da Reitoria da UCP (1997-2002), da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa (desde 1997), da Comissão Pedagógica da Faculdade de Ciências Sociais (desde 2005) e de idêntica Comissão da Faculdade de Teologia (desde 2007) e ainda Delegado do Conselho Científico para o Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra (desde 2003).

Publicou a sua dissertação de Doutoramento, em 1996: Paul Ricoeur: Sujeito e Ética, Braga, Edições APPACDM, 408 págs.

Finalmente, o mais importante para nós: foi um excelente professor, bom conhecedor das matérias que ensinava e que expunha com muita clareza. Exigente no essencial, não deixava de ser condescendente com a debilidade de alguns alunos, de quem sempre era amigo e por quem sempre foi estimado.


Autor: António Costa Guimarães
DM

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24 novembro 2020