Poderá a igreja da Colegiada da Oliveira recuperar o estatuto de Santuário Mariano Nacional? No livro “Portugal e os Portugueses”, o Senhor D. Manuel Clemente defendeu que a devoção mariana é, não só um facto relevante na piedade pessoal de muitos portugueses, mas acima de tudo uma verdadeira devoção nacional, porque os portugueses muitas vezes a Ela se dirigiram, nas grandes horas, para intercessão ou louvor. E depois de fazer um balanço histórico dos principais momentos em que os portugueses a Ela se dirigiram - sem esquecer a peregrinação de D. João I à Senhora da Oliveira, em Guimarães, a pé e a agradecer – tirou a seguinte conclusão: “Se os povos se simbolizam nas realidades que afirmam com mais constância e calor, então o povo português aparece-nos frequentemente como um povo mariano”.
Esta união entre a proteção de Maria e os destinos nacionais está bem expressa nos famosos versos do Padre Malhão que qualquer português canta com piedade e orgulho patriótico: «Salve, nobre Padroeira do Povo, Teu protegido, entre todos escolhido para povo do Senhor. Ó glória da nossa terra, que tens salvado mil vezes, enquanto houver Portugueses, Tu serás o seu amor» .
Se a devoção mariana é «crença religiosa e princípio de nacionalidade», como defende o Senhor D. Manuel Clemente, então podemos afirmar que Guimarães é a terra onde estes dois atributos se conjugam “com mais constância e calor”, porque foi em Guimarães que aconteceu o ato fundador da nacionalidade e porque ao mesmo tempo irradiou daqui a primeira devoção mariana, que rapidamente se estendeu a todo o território nacional, sob a invocação de Santa Maria de Guimarães, que é, como se sabe, Padroeira da Cidade.
Efetivamente, Guimarães é a terra onde aconteceu a batalha de S. Mamede que, segundo José Mattoso, foi o ato fundador da nacionalidade, ou dito de outro modo, o facto histórico que marcou o início da consciência pátria que daria lugar à futura constituição do reino. Com efeito, o processo de formação de Portugal decorreu num período histórico situado entre os dias 24 de Junho de 1128 e 3 de Maio de 1179, ou seja, entre a Batalha de S. Mamede e a Bula Manifestis Probatum do Papa Alexandre III. Mas apesar de não existir uma certeza absoluta quanto ao local exato em que se deu a referida batalha, é indiscutível que esse confronto aconteceu num local que faz parte do município vimaranense, como reconhece Luís de Camões no Canto III dos Lusíadas, quando diz “De Guimarães o campo se tingia/ co sangue próprio da intestina guerra”. Ou seja, não há dúvida de que aconteceu em território vimaranense a “Primeira Tarde Portuguesa” e de que Guimarães é o berço do Estado/Nação que deixou uma marca indelével pelos 5 continentes, com mais de 235 milhões de falantes da nossa língua pátria.
Feitas estas considerações e como resposta à pergunta formulada no início do artigo, deixo à sociedade política, cultural e religiosa vimaranense uma proposta com as seguintes iniciativas:
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Apresentação de um pedido formal ao Senhor Arcebispo de Braga no sentido de se obter o reconhecimento da igreja da Colegiada como um destino de peregrinação, onde acorrem milhares de fiéis, por motivo de piedade e, em consequência, a sua classificação como santuário diocesano;
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Restauração da invocação de Santa Maria de Guimarães, como uma das realidades em que a cidade de Guimarães se simboliza (desde logo porque figura no seu brasão), mas conjugada com os sentimentos de nacionalidade que com ela conviveram na época medieval;
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Criação de dinâmicas de intercâmbio inovadoras entre todas as venerações marianas do município de Guimarães, a fim de se pôr em destaque o papel de Maria na história da cidade e de Portugal;
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Definição de um calendário festivo religioso que seja capaz de proporcionar experiências religiosas novas e mostrar de forma transcendente os sentimentos de religiosidade e nacionalidade ínsitos na população portuguesa;
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Fomentar o desígnio de transformar o dia 24 de Junho em Dia de Portugal, com palco em Guimarães;
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Iniciar a preparação das comemorações dos 9 séculos da Batalha de S. Mamede - efeméride que ocorrerá no dia 24 de Junho de 2028 – associada à veneração de Santa Maria de Guimarães, como forma de assinalar o papel de Maria na história de Portugal. Considerando que a Pátria e a Fé são as realidades que os portugueses afirmam “com mais constância e calor”, é imperioso que, nos 9 anos que faltam para a comemoração dos 9 séculos de Portugal, as forças vivas de Guimarães se empenhem na criação de um plano estratégico para comemorar com brilho tal efeméride. Com a experiência vivida e sentida em 2012, quando foi Capital Europeia da Cultura, a cidade de Guimarães poderá afirmar a Pátria em 2028, tornando-se o palco nacional das Comemorações da Batalha de S. Mamede, obtendo o reconhecimento do dia 24 de Junho como Dia de Portugal e celebrando este evento sob o título de Capital do Mundo Lusófono.
Autor: Florentino Cardoso