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Gualdim Pais na Corte dos Condes Portucalenses, em Guimarães

Na Secção Cultural do Diário do Minho, edição de 03.09.18, foi publicado um texto sobreGualdim Paisque intitulei D. Gualdim Pais, cavaleiro de D. Afonso Henriques,nas comemorações dos 900 anos do seu nascimento”.

Deixando em aberto o problema do local do seu nascimento, afirmei nesse texto que “algum tempo da sua juventude terá sido passado na “villa de Vimaranis”, onde os pais do infante Afonso (D. Henrique e D. Teresa) residiam nopalácio real(palatium regale in villa de Vimaranis).

Dizia então que Guimarães merecia fazer parte das comemorações, juntamente com os municípios deBraga, Coimbra, Tomar, Vila Verde e Amares,para assinalar os 900 anos do seu nascimento, em virtude da estreita ligaçãode Gualdim Pais à corte dos Condes Portucalenses, em Guimarães. Atendendo a que a minha opinião poderá ser interpretada como “suspeita”por ser defendida por um vimaranense, volto novamente ao tema com apoios considerados de reconhecido mérito.

A informação acerca da família de Gualdim Pais poderá ser encontrada no Livro de Linhagens do Deão, no Livro de Linhagens de D. Pedro e na inscrição tumular da sua sepultura. Os dados biográficos encontram-se, essencialmente, em duas lápides com um texto quase idêntico.

Conjugando essas informações, conclui-se que Gualdim era filho de Paio Ramires e de Gontrode. Esta (sua mãe) era irmã de D. Paio Soares Correia, o “Velho”, sendo, portanto, da família dos “Correias”.Gualdim tinha, pelo menos, duas irmãs. Uma delas, Estevainha Pais, era casada com Martins Anes de “Riba Vizela”.Gualdim, pertencia, portanto,à pequena nobreza da zona do Minho, graças ao casamento da sua irmã, Estevainha Pais, com um membro da importante família cortesã de ”Riba de Vizela”.

Segundo José Mattoso, “a sua ligação à família de “Riba de Vizela” sugere contactos com a nobreza de serviço da corte régia, o que se confirma por no texto biográfico se dizer que foi educado e feito cavaleiro pelo próprio rei”. E acrescenta que as referidas “duas lápides onde se conta a sua história, referindo a sua formação na corte e dando-o como cavaleiro do rei “foram mandadas provavelmente gravar pelo própio mestre”.

O nome Gualdim, ainda segundo Mattoso, “parece indicar alguma ligação à onomástica nórdica, pois é um diminutivo do étimo gótico do qual deriva também Gualter”(cf. D. Afonso Henriques-306 e 307).

No livro “ Os Templários”, publicado pelo Canal de História (Canal TV, especializado e reconhecido, internacionalmente, pelo seu rigor em temas de história) afirma-se que “Gualdim Pais foi educado na corte de D. Afonso Henriques e aí teve ocasião de criar uma estreita amizade com o futuro Rei de Portugal”.

Note-se que a diferença de idades entre ambos é relativamente pequena: D. Afonso Henriques nasceu em 1106 (ou 1109), no palácio real de Guimarães, tendo sido batizado na capela real, adjacente ao mosteiro, fundado por Mumadona em meados do sec. X. Por sua vez, Gualdim Pais, tendo nascido em 1118, é mais novo que o infante Afonso Henriques 9 ou 12 anos. Recorde-se que D. Afonso Henriques só mudou a corte do Condado para Coimbra em 1131.

Gualdim Pais, foi figura proeminente na fundação da nacionalidade e mestre da Ordem dos Templários em Portugal. Companheiro de D. Afonso Henriques, foi armado cavaleiro pelo monarca em Ourique, em 25 de julho de 1139, tendo então tomado a cruz vermelha dos cruzados.

Em 1152, regressado da Palestina, D. Afonso Henriques fez dele comendador ou mestre da casa que a Ordem tinha em Braga, na atual rua ainda com o seu nome, bem como comendador de Sintra, dando-lhe aí “casas e fazenda”.

Como se verifica, tudo aponta para uma estreita relação entre D. Afonso Henriques e Gualdim Pais e uma mesma educação dentro dos valores aceites e promovidos pela corte dos Condes Portucalenses, D. Henrique e D. Teresa.

Assim, a homenagem a Gualdim Pais, nas comemorações dos 900 anos do seu nascimento, não ficaria completa sem uma referência especial a Guimarães, onde o caráter de Gualdim(monge, guerreiro, cavaleiro do Templo, estratega militar e povoador)foi moldado nos valores que conduziram à fundação da nacionalidade.


Autor: Narciso Machado
DM

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11 outubro 2018