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George Bernard Shaw ou... um diálogo de surdos

Esta última semana foi pródiga em situações que nos mostram que o futebol não é, apenas e só, um desporto do povo mas também um espaço de acontecimentos imprevisíveis, desportiva e culturalmente falando, onde só não aprende, ou não muda de opinião, quem não quer.

Dentro das quatro linhas tivemos dois honoráveis veteranos (com anteriores passagens pelo clube da cidade dos arcebispos) com um póquer e um hat-trick a validarem a frase “velhos são os trapos”. Obrigado Edinho, obrigado Jorge Pires.

Ainda nos relvados, uma “letra” em Lisboa e uma “bicicleta” (quase no espaço) em Turim, fizeram-nos perceber que nem tudo ainda foi visto ou inventado no futebol.

Obrigado Jimenez, obrigado CR7. O Sporting Clube de Braga que definiu como objetivos, encurtar distâncias para os três, únicos, clubes da nação, ao que (a)parece na imprensa escrita e TVs, está a fazê-lo de tal forma que se arrisca até a atropelar (pelo menos) um deles.

Mas quem diria que o MVP do passado fim-de-semana futebolístico fosse George Bernard Shaw, trazido a jogo pelo presidente do SCB, após justa e merecida vitória dentro das quatro linhas, para responder ao seu homólogo sportinguista que o apelidara de “labrego, trolha e aldrabão”.

Quem ouvisse apenas parte do que António Salvador disse: “Nunca lutes com um porco, ficas sujo e ele gosta…” até poderia deduzir que George Bernard Shaw fosse um respeitoso fazendeiro irlandês com uma enorme quinta de (re)produção de suínos.

Quem só ouvisse George e irlandês, e uma vez que o assunto era futebol, pensaria de imediato em George Best, mas este era de Belfast, e da outa Irlanda. Bernard Shaw, Nobel da Literatura em 1925, nasceu em Dublin (onde o SCB disputou uma final europeia – daí o conhecimento presidencial) e foi um conhecido dramaturgo, romancista e defensor das classes trabalhadoras.

Defendia direitos iguais para homens e mulheres, embora também conste que em 1933 sugeriu a criação de um gás letal com a finalidade de matar seres humanos “inadequados”...(fonte - Wikipédia)

Jogando com as palavras, António Salvador poderia ter apenas falado da peça de teatro mais conhecida de Bernard Shaw, “O Pigmalião”, pois o nome da peça ao iniciar-se em Pig (porco) e terminar em lião (foneticamente ouve-se, leão), resolvia o assunto de uma vez, sem necessitar de se sujar.

Ou, e citando ainda o Nobel, poderia ter dito a Bruno de Carvalho “não faças aos outros o que gostarias que te fizessem a ti. O gosto deles pode não ser o mesmo”, demarcando-se desta forma do seu homólogo leonino.

Caso este não percebesse a resposta, como parece não perceber de contabilidade quando tem de pagar, então sugeria a frase mais interessante que retirei do espólio de Bernard Shaw: “A minha forma de brincar é dizer a verdade. É a brincadeira mais engraçada do mundo”.

E, digo eu, se todos dissessem a verdade, a brincar ou não, provavelmente não se assistiria a este diálogo de surdos em que todos, futebol incluído, saem… sujos.


Autor: Carlos Mangas
DM

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6 abril 2018