Embora não no ativo - como treinador - continuo a acompanhar tudo o que diz respeito ao futebol de formação. Semanalmente, ouço histórias atuais que vivenciei, também, em tempos idos. Ao que consta, jovens praticantes, pais, treinadores e prospetores, continuam a dar “tiros nos pés”. Se a tudo isto juntarmos alguns quadros competitivos inadequados, temos os condimentos para manter o vulcão (sempre) em erupção. Porque, pelo que vou lendo em jornais e redes sociais, o momento parece exigi-lo, atrevo-me a deixar algumas sugestões aos que vivem apaixonadamente - às vezes até demais - (n)o futebol de formação.
Relembro aos projetos de futebolistas que existem, disseminadas pelo país, escolas UAARE -, unidades de apoio ao alto rendimento - com o objetivo de conciliar com sucesso, a atividade escolar e a prática desportiva de alunos do ensino secundário, enquadrados no regime de alto rendimento. Todos podem ter sucesso dual, pelo que não há motivo para fazerem, já, uma sempre ingrata opção entre a modalidade ou uma cadeira académica. Depois, se não conseguirem a via do alto rendimento desportivo, podem sempre fazer aposta séria na via do alto rendimento académico.
Aos pais, relembro que os filhos começam por praticar desporto para se divertirem e estarem com os amigos. O rendimento desportivo e enquadramento em equipas com quadros competitivos nacionais surgirão, natural e atempadamente, aos considerados mais aptos. E, acreditem, não são atitudes inadequadas e impróprias nas bancadas e/ou em casa que vão contribuir para que isso lhes aconteça, bem pelo contrário. Já o disse e reafirmo, sem pais não há desporto de formação no nosso país. Assim eles queiram fazer parte da solução e nunca do problema.
Aos treinadores, alerto-os para a contínua necessidade de perceberem que exercícios de treino cuja complexidade se encontre adequada ao escalão, originam aprendizagens significativas.É importante que as crianças tenham paixão pela modalidade, bom relacionamento com a bola, capacidade criativa e, maioritariamente, tomadas de decisão assertivas. Não esqueçam que mais do que vencer jogos, é a evolução das crianças, tendo sempre como base o respeito pelos outros e pela modalidade, o que mais importa.
Aos prospetores, responsáveis por desenraizamento em idades precoces, sugiro que contem a história toda - os prós e contras - e não apenas o que convém aos VOSSOS objetivos.
Por fim, aos responsáveis pela elaboração dos quadros competitivos, relembro as goleadas semanais e o exíguo tempo de jogo permitido aos mais novos. Assim, os melhores não evoluem, retardando a aquisição de competências base necessárias e fundamentais nos escalões superiores, e os menos aptos, a curto prazo, com a frustração das goleadas acumuladas, tenderão a abandonar a modalidade. É fundamental, pois, uma alteração urgente, no que se refere à competitividade e tempo de jogo.
A todos relembro, corrigir erros e mudar de opinião são sempre sinónimos de raciocínio permanente e aprendizagem constante.
Autor: Carlos Mangas