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“Fui raptada em Londres e vendida para sexo”

Impressionante história, BBC, 8/8/18, por Sarah McDermott. O sinistro mundo do tráfico de milhões de seres humanos para exploração sexual, mas também órgãos ou até rituais satânicos. Anna, nome fictício, veio da Roménia para Londres estudar enfermagem e psicologia. Anna precisava de dinheiro. Assim, foi explicadora de matemática, empregada de mesa e limpeza.

Em 3/2011 foi raptada na rua, obrigada a voar para a Irlanda e passou “9 meses” no inferno. Estava mesmo a chegar a casa, Wood Green-Londres, onde ia comer e trocar de roupa para continuar o trabalho. Estava com auriculares a ouvir Beyoncé. De repente, um homem agarra-a por detrás pelo pescoço e, tampando a boca, arrasta-a para dentro dum carro vermelho.

Dentro estavam 2 homens e 1 mulher que a ameaçaram várias vezes de morte, bem como os seus pais que estavam na Roménia, sabendo onde viviam, ao mesmo tempo socavam-na. Eles tinham já todos os documentos dela, previamente furtados.

Chegados ao aeroporto, um dos homens fez-se de casal. Anna estava aterrorizada, chorava e tinha o rosto vermelho, mas ninguém no aeroporto fez caso. Apenas sorriram.

Entrados no avião, sentaram-se nos lugares de trás e o homem ameaçou de novo Anna de morte. Na nossa opinião devia ter gritado... Foi no avião que percebeu que ia algures para a Irlanda. As hospedeiras sorriam. Estava decidida a correr quando desembarcasse.

Mas cedo se apercebeu que o aeroporto era muito pequeno e neste já estavam outros dois romenos. Um deles, estende-lhe a mão sorrindo e diz: “finalmente, esta é melhor”. Anna apercebe-se da prostituição forçada. Levam-na para um andar perto dum agenciador de apostas. À entrada, uma mesa com mais duma dúzia de telemóveis e vários homens fumando, cada um com o seu computador.

Dos quartos conexos saiam e entravam constantemente mulheres. Uma mulher romena mafiosa, ajudada por dois homens, começam a arrancar-lhe as roupas. A partir daí, Anna será brutalizada: “agiam nem como animais…”. O quarto cheirava a suor, álcool e tabaco. Ela foi fotografada para ser colocada na internet. Durante meses não viu o dia. Somente dormia quando não havia clientes, mas tinha para cima de 20 clientes por dia.

Havia dias sem comida… Sem dormir e comer, sentiu que o seu cérebro desapareceu. €100 ou 1hr cerca de €200. Alguns clientes deixavam-na a sangrar ou incapaz de ficar em pé. Alguns faziam perguntas que pareciam simpáticas, mas todos sabiam que eram cativeiras. Anna ficou a odiar todos. Certo dia veio a polícia, notícias por todos os lados, os proxenetas romenos tinham fugido antes. Anna, processada, passou uma noite na prisão!

No dia seguinte pensou em fugir, mas os chulos esperavam-nas. A polícia irlandesa não acreditou nela. Entretanto, os mafiosos colocaram no facebook de Anna lindas fotos, escrevendo: “estou óptima, tenho feito dinheiro”. Certo dia ouviu que a queriam traficar para o Médio Oriente. Resolveu fugir. Em algumas ocasiões ia a clientes fora do apartamento.

Decorou um dos sítios onde ia, um traficante de droga importante que nunca queria sexo, mas apenas informações para montar um bordel. Este ajudou-a e deixou-a ficar no local. Apesar da má experiência com a Polícia, telefonou-lhes de novo e conseguiu arranjar um encontro num café. Antes tinha ligado à mãe, mas o “padastro” disse “nunca mais ligues”. O Polícia pediu nomes. O honesto Polícia ficou surpreendido!

Seguiram-se 2 anos de investigação, e condenações por tráfico humano, lenocínio e lavagem de dinheiro. Embora apenas “cerca de 2 anos!”. Anna conseguiu entretanto que um Lord político irlandês unionista, preocupado com o tráfico de pessoas e crianças para sexo, fizesse um projecto de lei que criminalizasse o lenocínio e quem compra sexo. Não é essa a nossa opinião para acabar com estes abusos, mas depois veremos.

Anna ficou com lesões permanentes no íntimo do seu corpo. Assim como na coluna. Parte do seu cabelo deixou de crescer por ser muitas vezes arrancado. Tem pesadelos contínuos e ainda sente aquele cheiro imundo. E Portugal?


Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira
DM

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10 agosto 2018