É reconhecidamente muito difícil sintetizarmos a vida de alguém com um perfil tão rico e invulgar como o do Francisco Alvim. Não é apenas pela dimensão do muito e bem que fez. É sobretudo, pela profunda emoção da ausência e de perda sentidas, pela sua partida recente.
Tive o subido privilégio de conhecer o Francisco Alvim, ainda na adolescência e melhor como jovem adulto. Habituamo-nos depressa àquele sorriso aberto e, por vezes sonoro, das suas gargalhadas francas. Um estilo inconfundível, numa mescla de gentlemen com alguém muito acessível, numa cordialidade atenta e cativante.
Pude acompanhar boa parte da sua intervenção cívica, apesar de toldada pela distância, devido aos anos vividos em Lisboa. Ainda assim, a sua postura e ação multidimensional, deixa-nos um legado profundamente inspirador, de alguém que na esfera pública, como na intimidade da sua família e grupo de amigos, foi um precursor de um cristão dos nossos tempos: muito bem preparado, com o seu exemplo de vida, indo ao encontro das periferias existenciais, físicas e espirituais, bem ao jeito do que o atual Papa homónimo, tem procurado conduzir a sua igreja em saída.
Uma vida pulverizada de empenhos vários, desde o seu contributo profissional na Segurança Social, às múltiplas funções como voluntário, ao serviço de instituições da Arquidiocese de Braga, passando pela sua intervenção política. Mas foi sobretudo, particularmente relevante, a sua ação na área social, onde deixou um inestimável trabalho que ultrapassou, de forma distintiva, os limites da urbe Bracarense.
Sem pretender destacar qualquer das suas “causas”, dada a cuidada dedicação a cada uma, talvez seja justo reconhecer, que a presidência da Delegação de Braga da Cruz Vermelha Portuguesa, tenha sido um dos ícones que marcou, indelevelmente, a sua intervenção social e humana, na nossa cidade.
Como atual presidente do Centro de Solidariedade de Braga/Projecto Homem, não posso deixar de sublinhar a ligação que o Francisco Alvim manteve com esta instituição, desde a sua origem.
No início dos anos 90, estava o saudoso Cónego Fernando Monteiro, fundador e primeiro presidente do Projecto Homem, que nos deixou também recentemente, no início deste ano, à procura de um terreno, onde fosse possível construir a Comunidade Terapêutica. Naquela ocasião, o Francisco Alvim era presidente da Mesa da Irmandade de Santa Maria Madalena do Monte e Santa Marta da Falperra.
Ao ter conhecimento desta necessidade, imediatamente se mostrou disponível para a cedência do terreno na Falperra, onde se situa hoje a Comunidade Terapêutica Fundação Cupertino de Miranda, nome atribuído como reconhecimento à entidade que viria a ser determinante no financiamento à sua construção. Presença assídua nas Festas de Natal do Projecto Homem, esteve connosco uma última vez, na celebração do 25.º aniversário da instituição, em dezembro de 2016.
Mas falar do Francisco Alvim, é dar singular relevo à sua densa formação espiritual, com múltiplas influências e matizes, constitutiva de uma refinada integridade humana e intelectual, traduzida numa rara sensibilidade social. Também aqui, o Francisco Alvim apresenta-se como um homem livre, que coloca ao serviço de todos, com envolvente entusiasmo, uma cidadania social inclusiva.
Uma personalidade moldada pela riqueza dos tesouros da sua alma, manifestada num semeador de esperança, em particular nos mais desafortunados, na ânsia de encontrar um lugar para os últimos da sua cidade, que soube amar como poucos.
É talvez por isso, que o Chico Alvim, como os amigos o tratavam, terá agora um lugar no Céu, num Paraíso desfrutado, no coração da cidade eterna, na Mariápolis Celeste. E terá em tantos de nós, apreciadores deste talento de virtudes, a fisionomia de um cidadão amado, de um amigo querido, que nos abriu um caminho, que alguns quererão e irão certamente percorrer.
Obrigado Chico Alvim, por tudo e para sempre, pelos inolvidáveis momentos proporcionados, pela tua muito feliz companhia.
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Autor: Guilherme de Sousa Meneses
Francisco Alvim – O gentlemen dos últimos
DM
30 maio 2019