twitter

Finalistas com finalização indesejável

Mas houve contra-notícias. Afinal, o hotel lesado abusou destes seus hóspedes, exigindo o pagamento indevido de uma espécie caução, que não estava prevista, através da qual se queria ressarcir dos danos de cerca de 50.000 euros causados pelos desacatos dos nossos jovens compatriotas. Um dos finalistas reconhece que fizeram estragos, quando souberam que lhes iam tirar dinheiro pelos estragos causados. Por isso, “se nos vão tirar o dinheiro pelos estragos que não fizemos, vamos realmente fazer estragos. E aí os estragos foram feitos, mas não esses estragos exagerados de que falam”.

Alguns dias depois, a empresa organizadora destas viagens, declara que o dono do hotel já não reclama os 50.000 euros, mas apenas 7500, o que significa um abatimento muito forte em relação às exigências iniciais. Queixa-se ainda de que a unidade hoteleira tratou muito mal os estudantes em matéria de alimentação e de higiene, enfim, que os estudantes tinham ido a Espanha para se divertir e foram defraudados, tanto mais que o comportamento do grupo se pautou por calma e serenidade, e não pela exorbitância selvagem em gestos e atitudes de que o hotel se queixou.

Efectivamente, o dono de uma discoteca da cidade manifestou o seu apreço pela boa compostura dos portugueses. Os espanhóis eram muito piores, observava. Os finalistas lusitanos até fizeram bicha para entrar no seu estabelecimento. Venham os que quiserem de Portugal, porque é boa gente...

Quem tem razão no meio desta confusão generalizada? O que parece deduzir-se é que estas incursões de finalistas a Espanha, feitas para se divertirem, não têm qualquer intuito pedagógico ou cultural. Entregam-se a si mesmos muitas centenas de adolescentes, que partem do país com a finalidade de passar um tempo de farra. E, pelos vistos, quando alguém os contraria, ou os faz sentir prejudicados, acham-se no direito de viver aquela norma de “olho por olho, dente por dente”.

Há negócios no meio desta barafunda? Com certeza. Este negócio das agências de viagem é lícito? Ninguém duvida. Mas o que se conclui é que as coisas, quando correm mal, dão origem a uma amarga troca de impressões e à revelação de comportamentos que os pais devem pensar se têm algum sentido educativo, ou se se transformam, pura e simplesmente num convite à grosseria, à falta de controlo dos filhos sobre si mesmos, à tripa forra, enfim, a tudo o que um projecto educativo e pedagógico sério e honesto deve procurar evitar.

As escolas, pelos vistos, não se culpabilizam, porque a organização destas saídas de finalistas corre à margem da sua competência. Uma agência de viagens, se é solicitada ou se abre as suas portas e balcões a este tipo de iniciativas, deve, pelo menos, ponderar se o que está a empreender, com jovens menores, constitui um mero “negócio” sobre a moralidade do qual não podem garantir que seja exemplar, tendo ainda em conta que, num passado mais ou menos recente, já deu origem a algum óbito de um estudante por acidente espectacular, motivado, ao que parece, por excesso de álcool.

A quem, então, atribuir mais responsabilidades? Quando há menores em causa, pelo menos em maioria muito significativa numa multidão de adolescentes, o poder de decidir sobre a conveniência ou inconveniência na participação de uma viagem de finalistas é dos pais. Para tanto, devem interessar-se seriamente sobre o significado e o carácter formativo da saída dos seus filhos. Que estes exemplos tão desagradáveis e chocantes os levem a compreender que, por vezes, dizer que não é uma boa norma de responsabilidade paternal e familiar, tendo em conta o que pode acontecer e o que sabemos que acontece de facto.

 

Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

DM

16 abril 2017