Vivemos, neste mês de Agosto, um tempo de férias. Tantas pessoas que deixam a sua vida normal de trabalho e passam uns dias com a família, onde se revigoram forças. Daqui a algum tempo, vê-las-emos regressar do período de descanso para as suas ocupações laborais.
Vêm com mais dinâmica e, provavelmente, lamentando que, por uma ou outra razão, não pudessem alargar a temporada de recuperação das suas fadigas laborais. Enfim, férias são férias e quem não tem saudades dessas ocasiões mais despreocupadas?!
Há, no entanto, dois modos distintos de encarar estes tempos. De um modo cristão e de um modo pagão. Se visitarmos os capítulos iniciais da Sagrada Escritura, veremos que Deus não é alheio à existência do descanso. No Génesis, diz-se que Iavé, depois de ter criado este mundo onde nos é permitido viver, verificou que tudo era muito bom e, ao sétimo dia, descansou.
Esta linguagem bíblica não nos deve levar a pensar que Deus, como nós, que somos limitados e não perfeitos, se cansou e teve por isso de repousar das suas fadigas criacionais ao sétimo dia. Mas apenas que Deus tudo dispôs para que o homem pudesse usufruir das riquíssimas realidades que a criação lhe oferecia para poder, em seu proveito, e sempre sob o desígnio divino, realizar, através da ocupação profissional e relacional, a sua vocação à vida da melhor maneira. E, para lhe dar o exemplo, uma vez terminada, com primor, a obra criacional, ensinou-lhe que quem trabalha deve descansar para revigorar as suas energias. Um trabalho exacerbado conduz à inanidade e à desordem completa da existência.
O cristão, porém, não pode esquecer, na sua época de distensão, as obrigações para com Deus que deve continuar a viver. Por exemplo, não são, em princípio, santificáveis as férias de quem gasta todo o seu tempo num repouso em que a missa dominical ou as orações que é costume fazer se esfumam como nuvem secundária.
Nessa altura, um filho da Igreja não vive de acordo com a sua fé, mas de uma forma pagã. Muito sol, muita praia, boa comida, bons passeios, muita convivência... e Deus? É fechado na gaveta do esquecimento, como se fosse um conhecido indesejável.
O primeiro Mandamento manda-nos “adorar e amar a Deus sobre todas as coisas”. Vivendo nesse tom, Deus deixa de ser amado objectivamente e, muito menos, adorado, pois presta-se toda a nossa atenção ao que nos apetece e não àquilo que Deus nos pede, sempre de forma misericordiosa.
Um bom cristão pensa sempre, antes de organizar as suas férias, nos seus deveres indeclináveis de fiel. Por isso, procura saber com naturalidade como pode cumprir o preceito de participar na Missa dominical, no lugar de veraneio.
E se é chefe de família e tem filhos para educar, com certeza que procurará falar com mais detenimento com eles, de acordo com as idades, e dar-lhes o bom exemplo de que não pode haver boas férias sem Deus, pois foi Ele que determinou que havíamos de descansar... mas nunca e, em qualquer circunstância, nos convidou a pô-Lo de parte.
Queixava-se uma mãe de que um seu filho punha resistências de ir à missa, em tempos lectivos mais apertados, porque precisava de estudar e não de ir à Igreja. Ralhou-lhe e explicou-lhe que era um dever.
E que ele lhe respondeu de forma pouco delicada: “Não percebo. No Verão, fomos para férias e não houve missa aos domingos para aproveitarmos todo o tempo de praia. Agora, que devo estudar, não posso aproveitar o tempo de que preciso, porque tenho de ir à missa...”
Em compensação, um velho amigo surpreendeu-me, porque tinha desistido de um programa de férias estivais muito atraente e económico. Fiquei surpreendido, mas ele esclareceu-me: “Senhor Padre, tudo era óptimo, excepto este aspecto: não podia ir à missa, porque não estava prevista essa situação. E não podia dar maus exemplos aos meus filhos...”
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva