«Estende a tua mão ao pobre» é o tema da mensagem do Papa Francisco para o IV Dia Mundial dos Pobres que se celebra no próximo dia 15.
1. A existência de pobres é uma realidade a que não devemos ficar indiferentes. Escreve o Papa:
«O encontro com uma pessoa em condições de pobreza não cessa de nos provocar e questionar. Como podemos contribuir para eliminar ou pelo menos aliviar a sua marginalização e o seu sofrimento? Como podemos ajudá-la na sua pobreza espiritual?
A comunidade cristã é chamada a coenvolver-se nesta experiência de partilha, ciente de que não é lícito delegá-la a outros. (…)
Não podemos sentir-nos tranquilos quando um membro da família humana é relegado para a retaguarda, reduzindo-se a uma sombra.
O clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda parte, para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles face a tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas, e para os convidar a participar na vida da comunidade».
2. A vida do cristão move-se em dois sentidos: o vertical e o horizontal.
Cito a mensagem: «São inseparáveis a oração a Deus e a solidariedade com os pobres e os enfermos.
Para celebrar um culto agradável ao Senhor é preciso reconhecer que toda a pessoa, mesmo a mais indigente e desprezada, traz gravada em si mesma a imagem de Deus». (…)
O tempo que se deve dedicar à oração não pode tornar-se jamais um álibi para descuidar o próximo em dificuldade».
3. Pobres são todos os que precisam da ajuda dos outros. Não apenas os carecidos de bens materiais necessários para poderem viver com dignidade
Os tempos que vivemos fizeram emergir novos pobres.
Na referida mensagem o Papa lembra o conjunto de mãos que se lhes estenderam:
a do médico que se preocupa de cada paciente, procurando encontrar o remédio certo;
a da enfermeira e do enfermeiro que permanece, muito para além dos seus horários de trabalho, a cuidar dos doentes;
a de quem trabalha na administração e providencia os meios para salvar o maior número possível de vidas;
a do farmacêutico exposto a inúmeros pedidos num arriscado contacto com as pessoas;
a do sacerdote que, com o coração partido, continua a abençoar;
a do voluntário que socorre quem mora na rua e a quantos, embora possuindo um teto, não têm nada para comer;
a de homens e mulheres que trabalham para prestar serviços essenciais e segurança.
4. Também tem havido mãos que se não estenderam – as da indiferença e do comodismo – e outras que seria bem melhor se não tivessem estendido: as do oportunismo, da exploração, da coisificação do outro ferindo-o na sua dignidade.
Escreve o Papa:
«‘Estende a mão ao pobre’ faz ressaltar, por contraste, a atitude de quantos conservam as mãos nos bolsos e não se deixam comover pela pobreza, da qual frequentemente são cúmplices também eles. A indiferença e o cinismo são o seu alimento diário.
Que diferença relativamente às mãos generosas que acima descrevemos!
Existem mãos estendidas para premer rapidamente o teclado dum computador e deslocar somas de dinheiro duma parte do mundo para outra, decretando a riqueza de restritas oligarquias e a miséria de multidões ou a falência de nações inteiras.
Há mãos estendidas a acumular dinheiro com a venda de armas que outras mãos, incluindo mãos de crianças, utilizarão para semear morte e pobreza.
Existem mãos estendidas que, na sombra, trocam doses de morte para se enriquecer e viver no luxo e num efémero desregramento.
Existem mãos estendidas que às escondidas trocam favores ilegais para um lucro fácil e corrupto.
E há também mãos estendidas que, numa hipócrita respeitabilidade, estabelecem leis que eles mesmos não observam».
5. Neste cenário, escreve ainda o Papa, «os excluídos continuam a esperar. (…). Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe».
Autor: Silva Araújo