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Entre a melancolia e a esperança…

Em ocasiões excecionais da vida como a que agora vivemos, condicionados pela pandemia do covid-19, facilmente mergulharemos numa profunda melancolia se não tivermos o cuidado de olhar e refletir com atenção redobrada sobre o que é verdadeiramente importante. Nestes dias de alvoroço e de medo é fundamental focarmo-nos no essencial e deixarmos para depois o que neste momento apenas nos pode impedir de tomar as atitudes mais corretas para minimizar as consequências desta verdadeira catástrofe. Neste momento, o que é realmente primordial é tudo fazer para travar a expansão da doença e evitar o maior número de mortes. Agora é tempo de nos deixarmos conduzir com lucidez e disciplina por quem tem a difícil e arriscada tarefa de dar as orientações para travar este combate. É tempo de nos unirmos e de sermos solidários. É tempo de acreditar que, mais cedo ou mais tarde, a pandemia terá um fim e precisamos de estar aptos para prosseguir o caminho. Agora, é tempo de sabermos esperar! Os balanços, as apreciações de desempenho, as eventuais censuras e os muitos estudos, que por certo surgirão, devem ser diferidos para o fim deste pesadelo, desta grande tormenta. Todavia, depois do que já vimos, há conclusões que, de tão óbvias, não podem ser escamoteadas. A mais evidente diz respeito à saúde. Nunca como agora foi considerada como o bem mais importante para o ser humano e para o bom funcionamento da sociedade em geral. Sem ela não há comunidade que viva com normalidade, nem economia que resista sem grandes sobressaltos. Identicamente manifesta é a impreparação dos serviços de saúde dos países ditos desenvolvidos para lidar com catástrofes como esta do coronavírus covid-19. De facto, o que nos chega de países como Itália, França, Espanha, Reino Unido e de muitos outras paragens é prova mais do que suficiente para afirmar que ninguém está bem preparado para acudir a tamanha devastação. A nível mais espiritual, meditando mais profundamente sobre esta pandemia, calculando o sofrimento e a perda de vidas humanas e os impactos na economia global que esta doença já causou, não podemos deixar de ficar confinados à nossa pequenez no universo. Depois destas intuitivas conclusões antecipadas, o que seria bom esperar dos senhores do mundo? Seja qual for o desfecho desta desgraça, já que ainda estamos longe de saber da sua real amplitude, nada deverá ficar como dantes. Desde logo acredito que os serviços de saúde, um pouco por todas as latitudes, comecem a ser mais bem tratados pelos poderes públicos e que as suas traves-mestras não sejam deixadas ao arbítrio do mercado. Desde já, a lição que todos podemos tirar é a necessidade de fortalecer e dotar os serviços nacionais de saúde dos meios suficientes e necessários para cumprirem a sua missão em toda e qualquer circunstância. Logo depois, gostaria que os detratores das alterações climáticas olhassem com os olhos bem abertos para os rápidos resultados da diminuição forçada das emissões poluentes, alterassem os seus comportamentos e todos juntos pudéssemos lutar pela preservação do planeta. Em simultâneo, depois de tantas mortes e de tamanho sofrimento, admito que poderemos ver nascer uma nova ordem mundial. Uma nova ordem mundial baseada no respeito pelos povos, que tenha em consideração a proteção da natureza e, sobretudo, muito mais solidária. Que abandone de vez a exploração do homem pelo homem e que seja capaz de dar um combate sem tréguas às desigualdades gritantes que todos hoje podemos testemunhar. Admito e desejo que este novo vírus faça despontar uma nova sociedade mais consentânea com os valores humanos, em que a internet não seja mais um modo de escravizar, mas antes um veículo de libertação para a cultura, para a educação plena e um valioso contributo para a felicidade de toda a humanidade. Entre a melancolia deste tempo de desassossego e o infortúnio do confinamento obrigatório, cultivemos a esperança num porvir mais fraterno e muito mais humano.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

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31 março 2020