Quando me sentei à secretária, tendo diante de mim uma folha em branco para escrever esta crónica, senti um enorme prazer, pois tinha decidido que o assunto a tratar seria o centenário do Diário do Minho (DM) que se vai comemorar na próxima segunda-feira, dia 15 do corrente mês de Abril.
De facto, cem anos de um jornal diário regionalista, mas português e imbuído de um acendrado amor pátrio, católico, mas politicamente independente e regido por um “civismo cheio de isenção” e cultor de informação verdadeira, mas “sem sacrificar a moral”, fazem do DM um marco de sucesso na história da imprensa diária em Portugal, no século XX e no dealbar deste novo século!
Cruzando o conturbado capítulo da I República, atravessando com cautela e diplomacia, que não com subserviência, o período do Estado Novo e da censura prévia que nele vigorou e ajudando a consolidar a liberdade e a democracia após a revolução do 25 de Abril de 1974, este jornal sempre procurou defender os interesses de Braga, do Minho e do país, informando e formando os seus leitores, na linha dos seus princípios orientadores, sempre na fidelidade ao Magistério da Igreja, cuja doutrina segura procurou e procura ensinar, à luz da renovação pastoral e litúrgica que o Concílio Ecuménico Vaticano II preconizou, evitando o sensacionalismo e exibicionismo eclesiásticos de teses demasiado progressistas ou muito pessoais.
Neste sentido, pode pois afirmar-se que, na centúria que está prestes a completar-se, o DM foi testemunha privilegiada e protagonista da história pátria e da região e da história da Igreja arquidiocesana e nacional, das quais constitui um esboço fundamental para a sua escrita.
Porém, o sucesso deste empreendimento jornalístico tem causas remotas e próximas que aqui não posso nem devo obliterar, sobretudo em maré tão festiva como esta.
Entre as primeiras, importa recordar a importância eclesial e cultural de Braga, cidade sede de uma antiquíssima arquidiocese primacial, onde, sob a égide de arcebispos como D. Diogo de Sousa, D. Frei Bartolomeu dos Mártires, D. Gaspar de Bragança e D. Frei Caetano Brandão, se desenvolveram estudos, manifestações artísticas e culturais e o progresso científico e urbanístico. E, também, o progresso económico e cultural do fontismo dos finais do séc. XIX, sobretudo no domínio do desenvolvimento da rede viária que em muito veio facilitar a comunicação entre as diversas regiões do país e fomentar o aparecimento dos jornais locais e regionais.
E por último, é preciso recordar que, no final da monarquia (1910), Braga possuía várias oficinas tipográficas de grande qualidade que justificam igualmente o incremento da imprensa periódica.
Ora, sendo verdade que os jornais eram já então muito utilizados, sobretudo na propaganda dos ideais políticos e na defesa dos direitos laborais, é evidente que, com o advento da república e das perseguições religiosas que a mesma desencadeou, se tornaram meios particularmente eficazes na resistência católica às ideias republicanas.
Foi assim que, em 1911, surgiu o “Echos do Minho”, bissemanário regionalista de tendência católica que, em 1914, passou a diário e que, depois, sob o efémero governo de Sidónio Pais, se tornou sidonista e monárquico até ao seu encerramento em 13 de Fevereiro de 1919, com a queda da monarquia do Norte.
Foi este jornal que o “Diário do Minho” veio substituir, em 15 de Abril de 1919, como matutino regionalista e católico, reivindicando o papel de porta voz da Igreja em Portugal, mas assumindo-se como politicamente independente.
Entretanto, as aparições marianas em 1917, na Cova de Iria, originaram uma fortíssima mobilização dos católicos no país que ultrapassou as iniciais cautelas e hesitações da Igreja e venceu a intimidação que as autoridades da República procuraram causar aos três pastorinhos, obrigando o regime republicano a evoluir para um sistema mais aberto, tolerante e respeitador da Igreja.
Foi nestas difíceis e conturbadas circunstâncias que veio à luz e vingou o DM!
Nestes cem anos de vida do jornal, ligam-me ao DM quase vinte de colaboração regular, como cronista semanal, para além de alguns esparsos escritos publicados em período anterior.
E, por conseguinte, desejo ardentemente que, no futuro, o DM consolide o lugar cimeiro a que se alcandorou no panorama da imprensa diária regional e continue na senda da modernização tecnológica e em contínua actualização e valorização dos recursos humanos e materiais.
Muitos parabéns ao DM, a quem saúdo na pessoa do seu dedicado director, Damião Pereira, e a todas as equipas que lhe deram vida centenária. E ad multos annos!
Autor: António Brochado Pedras
Em vésperas do centenário do DM
DM
12 abril 2019