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Em defesa do papel

1. Correndo o risco de me considerarem antiquado, não deixo de fazer, hoje, a defesa do papel. O elogio da imprensa escrita. E lamento que o afã de se mostrarem muito atualizados tenha levado alguns responsáveis a porem-na de lado. «Com a internet, os media tradicionais deixaram de ser o território preferencial de intervenção dos cidadãos. Há hoje a ilusão de que o jornalismo clássico é descartável; de que o acesso fácil, rápido e barato à blogosfera, às redes sociais e ao on line torna os jornais em papel redundantes ou dispensáveis» disse Luís Marques Mendes em Braga, em 17 de março. E há quem vá na ilusão. É um facto a existência de novas formas de comunicar, resultantes dessa invenção maravilhosa que é a Internet. «Passámos da máquina a vapor para o telégrafo, para a eletricidade, para o automóvel, para o avião, para a indústria química, para a informática e nos últimos tempos para a revolução digital, para a robótica, para as biotecnologias e para as nanotecnologias» lembra o Papa Francisco («Deus é Jovem», pag. 57-58). Estou, todavia, persuadido de que a comunicação on line não deve ser motivo para que se elimine a comunicação em papel. 2. Quem tem o dever de transmitir mensagens não deve limitar-se a colocar ou mandar colocar textos na Internet. A existência do helicóptero não fez desaparecer a bicicleta. Pessoalmente uso a Internet mas não dispenso a imprensa escrita, como demonstra este artigo, que envio por mail para a Redação. Todos os dias abro o correio eletrónico, para ver se há mensagens de que devo tomar conhecimento ou a que devo responder. Mas não deixo de ir à caixa de correio ver se tenho correspondência nem de ler o jornal. Não ter acesso ao jornal logo pela manhã é, para mim, algo de semelhante a ter de ficar sem pequeno almoço. Há quem lamente que muita gente nova não escreva em condições. Pois se o uso que faz da Internet a não ensina a ler e a escrever… 3. O cristão tem o dever de evangelizar, utilizando os meios que tem ao seu alcance. Também os modernos meios, é evidente. Paulo VI chamou à Comunicação Social «uma versão moderna e eficaz do púlpito» (exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, 45). João Paulo II considerou-a «o primeiro areópago dos tempos modernos» (carta encíclica Redemptoris Missio, 37c). Mas nem por isso a Igreja deixa de publicar «L’Osservatore Romano». Colocar as mensagens na Internet não deve deixar sossegado quem pretende que o grande público delas tenha conhecimento. 4. Continuam a fazer falta as pautas de avisos à entrada das igrejas. Talvez alertando, até, para textos que se puseram na Internet, pois há quem a tenha mas a não utilize com frequência. Continuam a fazer falta as folhas ou boletins paroquiais. Foi uma pena deixar morrer semanários que foram muito úteis. 5. A defesa do papel também não é motivo para que se esqueça a importância da comunicação oral. Ainda hoje há quem não saiba ler. Ainda hoje há quem, conhecendo as letras e juntando-as, não sabe interpretar. Quem tem o dever de evangelizar deve tomar consciência de que ainda não apareceram substitutos válidos para os tríduos, para as semanas de pregações, para a catequese. Com os meios de hoje, é evidente. Não passa pela cabeça de nenhuma pessoa sensata fazer hoje sermões como fazia o P. António Vieira, o que não significa que se não pregue aos homens de hoje, numa linguagem de hoje, tendo em conta as circunstâncias e os condicionalismos das pessoas de hoje, transmitindo conhecimentos que são de sempre e ajudando a fazer uma leitura cristã dos acontecimentos e dos problemas de hoje. 6. Em conclusão: A Internet trouxe novas formas de comunicar. Enriqueceu o modo de relacionamento entre as pessoas. Mas não ponhamos de lado formas de dialogar e de comunicar que permanecem válidas. Entre estas encontra-se a imprensa escrita, tão negligenciada por pessoas que a deviam saber aproveitar e estimular.
Autor: Silva Araújo
DM

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19 abril 2018