No Dia da Europa, 9 de Maio, escrevemos aqui que, ao invés dos que dão maior importância às próximas eleições legislativas (Outubro), não são menos importantes as próximas eleições europeias (26 de Maio).
1. A União Europeia (UE) está numa encruzilhada críticacomo nunca esteve, não obstante, a ela, os povos europeus deverem a paz que reina desde há sete décadas. Se a UE se ergueu, depois da II Guerra Mundial, para que não houvesse mais guerras na Europa – qual continente sempre massacrado por conflitos bélicos –, é que Europa foi isso mesmo, século após século, passando por ditaduras, fascismos e comunismos, até que, desde os primeiros passos da UE, passou a contar, no seu seio, com as democracias mais plenas hoje existentes; ao contrário, veja-se como vivem os russos, os chineses, as populações de países árabes, várias ditaduras africanas; é triste, mas hoje mais povos vivem em ditadura que em democracia.
2. Para além da paz alcançada – de facto têm sido tempos de paze de desenvolvimento,como em nenhuma outra região do Globo –, houve um bem-estar crescente que bafejou os povos europeus em todos os domínios – saúde, trabalho, cultura, ensino, ciência, comércio, infra-estruturas, etc. –, o que explica que a UEtenha passado dos 6 Estados-membros fundadores (1951) aos actuais 27, com vários outros a baterem-lhe à porta! Portugal, como Espanha, teve uma transformação tal que a vida de hoje nada tem a ver com a de então.
Mas a UE tornou-se também um espaço aberto aos seus cidadãos: países sem fronteiras, sem necessidade de passaporte, com livre circulação de pessoas e de bens; na verdade, somente esta é a via para a prosperidade. Sempre foi ruinoso o fechamento das nações numa proclamada mas falaz soberania: é-o para as populações fronteiriças, é-o para os povos de todos os Estados-membros, é-o para as fábricas e empresas, para o comércio e indústria; fechar fronteiras é asfixiar a vida das pessoas, sufocar as culturas dos povos, é estrangular a dinâmica socioeconómica. Que se olhe para a Venezuela, e aí se tem o que seria uma crise fatal da UE–, a Venezuela que foi uma nação rica, como se lembram os da minha geração, tendo até ajudado Portugal em anos de crise (década de setenta).
3. Os mais velhos recordamo-nos: para ir de um a um outro país europeu eram necessárias horas nas fronteiras, perder dinheiro nos vários câmbios de moedas (sentindo-se a amarga sensação do valor minguado do “escudo”, índice também dum mais baixo nível de vida). Ora a UEé hoje um espaço em que 19 Estados-membros compartilham a mesma moeda (€), o que significa um patamar mais elevado de integração, evitando os riscos de flutuação e custos de câmbio, assegurando a estabilidade da moeda e da economia, reforçando o mercado único e a cooperação entre os países europeus; que o digam as empresas, beneficiárias desta nova realidade, num momento em que importa ainda aprofundar mais a união monetária e económica.
4. Mas a UE é muito mais! De mais Europapoderão falar os jovens que já viveram a experiência de programas Erasmus, indo de um a outro país da UEestudar um semestre ou um ano, vivendo novas experiências, lidando com outras idiossincrasias, aprendendo novas línguas, parceiros activos de equipas científicas de ponta, sem embater em fronteiras (nacionais), vivendo Europa como se fosse uma só Nação com múltiplos modos de ser, desde os da Europa do Norte aos países mediterrânicos, do Atlântico até às Repúblicas bálticas, com patrimónios diversos mas ricos, “unida na diversidade” – como é o lema da UE. Especialmente, é nela onde se exercitam os valores europeus, que importa especialmente aprofundar, desde as liberdades, uma maior igualdade, tolerância, liberdade religiosa, tudo isso que os vários extremismosquerem destruir, apoiados (nos bastidores mas com muito dinheiro) por potentes organizações oligárquicas, por um alucinado em Washington e um déspota em Moscovo, todos ansiosos por que a UE degenere e se fragmente, para que reinem no mundo!
5. Afinal, estas são mesmo as eleições mais importantes! Poderosos são os movimentos contra a UE, contra o euro (€), servindo-se à saciedade das redes socais, querendo freneticamente alojar-se no Parlamento Europeu – qual “cavalo de Tróia”– para implodir a UE.Não enganam ninguém: dizem querer acabar com o euro (não admira, é a 2ª divisa mais importante), implodir a UE, mas agitam bandeiras atractivas e enganadoras, como as da soberania nacional, dos imigrantes e refugiados, enfim da crise! Vendo bem, muitos dos problemas (desemprego, corrupção, custo de vida, melhores hospitais e escolas, etc.) vêm mais das más governanças nacionais. A UEcarece de reformas, é verdade, mas elas fazem-se (embora lentamente). Desagregar a UEseria um retrocesso civilizacional, um descalabro trágico de 73 anos de “aventura europeia”, cujo objectivo é tão-somente entregar as economias europeias à fúria dos grandes potentados especuladores.
Autor: Acílio Estanqueiro Rocha