Vamos ter eleições europeias no próximo Domingo e, muito provavelmente, mais de metade da população dos Estados-membros poderá não votar, tal como vem acontecendo desde que tal sufrágio foi instituído.
As causas do desinteresse dos eleitores são sobejamente conhecidas e a grande questão que se coloca é a de encontrar a fórmula certa para superar este défice democrático e convencer os cidadãos da importância fundamental da sua participação política na construção da União Europeia (UE) e de uma cidadania comum capazes de congregar os diversos povos europeus, na diversidade das suas nacionalidades, línguas, etnias, culturas, religiões e idiossincrasias.
Dirão os mais cépticos que não existe um povo europeu, como não há uma verdadeira identidade europeia. O que existem são nações irmanadas há séculos por traços comuns culturais, filosóficos, religiosos, sociológicos e políticos que permitem, seguramente, reconhecer nelas uma comum civilização cristã ocidental, como cimento agregador do continente em que se inserem. Mas que isso, dizem, jamais permitirá a concretização de um projecto federalista como aquele para que tendem os maiores Estados e grupos políticos europeus, por brigar com o espírito nacionalista e egoísta que consideram continuar a marcar a vida dos respectivos povos.
Outros, porém, defendem que, apesar de tudo, foi possível, gradualmente, erguer um modelo civilizacional democrático de paz e de relativa solidariedade, num espaço orientado pelos princípios da liberdade, da igualdade, da tolerância e da fraternidade, que garantiu mais de sete décadas de paz, de vivência democrática, de desenvolvimento económico e social e de bem estar, acabando de vez com as peias fronteiriças e monetárias que caracterizaram o tempo anterior e contribuindo definitivamente para a estabilidade da moeda, da economia e dos mercados.
Ora, a experiência destas décadas de vivência comunitária, sobretudo nas duas últimas, veio demonstrar que é possível, num quadro de maior integração política, económica, financeira e social, avançar para um modelo de índole federal, sobretudo num tempo que prenuncia mudanças multipolares inexoráveis, com o aparecimento de novos actores mundiais de peso – China e Índia – e o ressurgimento da Rússia.
Se a estas questões juntarmos os novos desafios das migrações, das alterações climáticas, do desemprego dos jovens e das guerras comerciais, temos de convir que, hoje mais do que nunca, a Europa está numa encruzilhada que vai obrigar à reforma e aprofundamento do projecto comunitário, se o quisermos salvar e levar mais longe.
E isso há-de ser conseguido, porventura, através de um novo desenho constitucional, de uma diferente configuração das eleições e dos partidos políticos, de uma mais eficiente informação, de uma maior participação dos cidadãos na vida pública e de um reforço da solidariedade e da democracia, por forma a acabar com as políticas de directório e com a dualidade de países de primeira e de segunda categorias.
Vejo, pois, com tristeza uma campanha eleitoral em que os temas nacionais têm uma clara primazia sobre os europeus e em que estas eleições são consideradas pelos principais partidos nacionais como uma primeira volta das legislativas, não obstante o aumento de competências e de transferência de soberanias e de poderes dos Estados-membros para os órgãos da UE indicie uma importância cada vez maior da legislação comunitária sobre as legislações nacionais.
E isto é tanto mais incompreensível quanto é certo que, segundo dados da ONU de finais de 2017, se estimam em 2.266.735 os portugueses emigrados pelo mundo, dos quais 1,5 milhões estão na Europa.
Por isso, sendo os países da UE cada vez mais o destino dos portugueses e tendo em conta que destes poucos são os que regressarão ao país, compreende-se melhor a importância que as eleições de Domingo têm para a nossa diáspora.
Com este sentido, desafio os meus compatriotas a, no próximo Domingo, deixarem por instantes o ócio desse dia de descanso para marcarem posição na construção da Europa que querem para o futuro, na certeza de que Portugal, sendo um país de vocação atlântica e universal, tenderá cada vez mais a ser uma nação europeia e com maior capacidade para ter no mar a sua maior utopia.
Vamos, pois, lutar por uma Europa melhor e mais solidária e pugnar por um Portugal europeu e atlantista, mais desenvolvido e mais capaz de garantir a defesa do seu território e da sua enorme zona económica exclusiva.
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