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E a festa foi avante!

Muito se tem escrito e falado a respeito da Festa do Avante. Polémica à parte, a verdade é que foi assunto que deu muito que falar e continuará a falar-se dele com paixão e aproveitamento político. O PCP é réu de opinião generalizada em todo este processo. O dinheiro da Festa do Avante faz-lhe jeito, mas não é o seu objetivo. O seu interesse de fundo é a necessidade de fazer prova de vida. O PCP tinha uma ideologia para a formação duma sociedade socialista em Portugal. Ao longo dos tempos foi perdendo essa ideologia porque não foi capaz de consolidar a Reforma Agrária, não encontrou força no Controlo Operário, não fez uma Escola Socializante, não levou avante a luta de classes, não acabou com o capitalismo, nunca afirmou as comissões de bairro ou rua e não esteve à altura duma mobilização de massas. Isto era a sua matriz, a sua razão da luta de classes. Tudo isto perdeu e ou não conseguiu porque não percebeu que a sociedade portuguesa não é uma sociedade socialista. Daí tem-se limitado a ser o sindicato dos aumentos salarias e dos direitos dos trabalhadores. Para não morrer como partido, porque como ideologia sabe que já lá não vai, é preciso demonstrar a força desta ideologia perante a sociedade em geral e, em particular, perante o poder constituído e também os seus prosélitos. É inequívoco que demonstrou à sociedade que a sua força existe; embora se trate de um pequeno partido na sua expressão eleitoral, apareceu em conceito público como se fosse um dos grandes. A Festa de Avante, a não realizar-se, constituir-se-ia como uma derrota desse poder que foi o que ficou do sonho duma sociedade marxista. O que existe são rebotalhos. Os atuais políticos, sejam do PCP ou doutro qualquer, vivem, do e no passado. Ainda não entenderam que a tecnologia não tem cor política e que a sociedade que com ela coexiste, vai estar indiferente às ideologias. A que partido pertence o robô? A tecnologia é da esquerda ou da direita? A comunicação das redes sociais a que partido pertence? Os atuais dirigentes políticos estão a fazer política atual com conceitos de sociedade do passado. O PCP bateu-se pela Festa do Avante. É o seu rosto público, a sua prova existencial. Como eu o compreendo! Claro que para ele o ajuntamento de pessoas era mais, contava muito mais do que a saúde pública. Se o indivíduo fosse alguém nesta ideologia, estou convencido que o PCP faria o mesmo que os outros paridos fizeram, isto é, tinha desistido da Festa do Avante. Mas aqui o indivíduo não conta, porque o todo (o partido) é maior que a soma das partes. Se houver consequências de saúde pública, derivadas da Festa do Avante , talvez vejamos o PCP argumentar que se isso se deveu a causas terceiras que não à Festa do Avante. Vão dizer, seguimos rigorosamente as diretivas da DGS. Foi assim na ex-URSS, é assim na China, na Correia do Norte, na Rússia de Putin, na Bielorrússia. Os marinheiros do submarino Kursk, há vinte anos, morreram porque Putin não deixou que fossem socorridos para que se não dissesse que a Rússia não era capaz de os salvar, como não salvou. Acho despudoradamente abusivo estes partidos totalitários falarem em democracia. Quando o não podem ser, amoldam-se às democracias como fungos aos penedos, sem deixarem de ser totalitários. Tornam-se lapas. A democracia dita popular, que eles apregoam, é a capa que não tapa os regimes totalitários, nem esconde as mortes dos contrários por envenenamento, pelo desaparecimento, envenenamentos, pela caída de janelas, pela proibição às liberdade individuais, de imprensa, coletivas ou saneamentos. Não há democracia sem liberdade plena. A liberdade é como um vaso, se ele é pequeno a planta fica raquítica e morre; precisa de ser grande para a árvore crescer de dar frutos. O PCP demonstrou e provou que, em política, nem sempre, na correlação de forças, ganha o mais forte ganha. Provou-o com a realização da Festa do Avante. Será que o PCP é o dono disto tudo? Que responda quem souber.
Autor: Paulo Fafe
DM

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8 setembro 2020