Seguiremos, por contraste, a narrativa de São Paulo aos coríntios (1 Cor 13,4-7) para tentarmos aglutinar em sete (numa visão tradicional) as dores da Senhora naquilo que à família diz (ou pode dizer) respeito: ira, inveja, orgulho, mentira, violência, ofensa, vingança… por contraste com paciência, aceitação/tudo espera, confiança/humildade, verdade/tudo crê, amável/sem violência, perdão/amor, paz/tudo desculpa, tudo suporta.
Na exortação apostólica pós-sinodal "A alegria do amor" (n.os 89-119), o Papa Francisco faz uma leitura muito pertinente sobre cada uma destas caraterísticas do amor humano e espiritual, colocando algumas diretrizes para vivermos na consonância da potencialidade com que os cristãos podem e devem viver a sua relação uns com os outros e todos em sintonia com Jesus na Igreja católica…
Respigaremos algumas dessas vertentes na consolação que queremos dar e receber de Nossa Senhora, passando das suas dores à vivência do amor em família, como família e para a família.
As dores da família repercutem-se na Senhora da Soledade, que continua a acompanhar, hoje, todos quantos se sentem submetidos às mais rudes provações, muitas delas no seio da própria família e outras geradas e acentuadas pelos critérios mundanos com que, de tantos modos, nos vamos socorrendo e enganando… mesmo sem disso nos darmos conta.
* À ira contrapomos a paciência – «Uma pessoa mostra-se paciente, quando não se deixa levar pelos impulsos interiores e evita agredir» (n.º 91) – Entregamos à mãe das dores as situações de agressividade, para que a família não seja, hoje nem nunca, um campo de batalha sem vencedores…
* À inveja propomos a aceitação, tudo esperando – «A inveja é uma tristeza pelo bem alheio, demonstrando que não nos interessa a felicidade dos outros, porque estamos concentrados exclusivamente no nosso bem-estar» (n.º 95) – Apresentamos à mãe das dores quantas amarguras e desesperos que consomem as famílias, criando, por vezes, menos boa aceitação uns para com os outros… e entre si.
* Ao orgulho contrapomos a confiança pela humildade – O "amor não é arrogante"… [isto é] não se «engrandece» diante dos outros; mas indica algo de mais subtil» (n.º 97) – Na medida em que todos se aceitam e onde todos se procuram servir com estima, sinceridade e admiração…
* Perante a mentira propomos a verdade/tudo crê – «Como se diz muitas vezes, para amar os outros, é preciso primeiro amar-se a si mesmo» (n.º 101) – Com a Senhora da Soledade queremos aprender a amar mais os outros do que desejando ser amado, sendo transparentes uns com os outros, vivendo e dando liberdade sem aprisionar ninguém…nem pelo pretenso amor.
* À violência (interior e exterior) responder com amabilidade – «Para restabelecer a harmonia familiar basta um pequeno gesto, uma coisa de nada. É suficiente uma carícia, sem palavras. Mas nunca permitais que o dia em família termine sem fazer as pazes’» (n.º 104) – Entregando à Senhora das Angústias as agruras da família poderemos viver a cortesia como escola de sensibilidade e de altruísmo com pequenos gestos de ternura e carinho entre todos…sem distinção nem preconceitos.
* Combater a ofensa com o perdão/amor – «O perdão fundado numa atitude positiva que procura compreender a fraqueza alheia e encontrar desculpas para a outra pessoa» (n.º 105) – Será com a Senhora da Piedade que poderemos viver a dinâmica de sermos perdoados e de termos capacidade de perdoar a nós mesmos e uns para com os outros… porque todos perdoados por Deus.
* À vingança contrapomos a paz, tudo desculpando e tudo suportando – «O amor não se deixa dominar pelo ressentimento, o desprezo das pessoas, o desejo de se lamentar ou vingar de alguma coisa» (n.º 119) – Quem melhor do que a Senhora de-ao-pé-da-cruz para nos ensinar a paz e o abandono nas mãos do Pai, por Jesus, no Espírito Santo!
Nota – saudação especial ao Diário do Minho por ocasião do 98.º aniversário, tendo em conta mesmo a mudança de instalações e a longevidade feita por tantas e tão diversas pessoas, figuras e personagens.
Autor: A. Sílvio Couto