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Dois meses de guerra na Ucrânia

Continuamos a assistir, todos os dias, àquilo que talvez nunca pensássemos que poderia acontecer nos tempos que vivemos: uma guerra devastadora, que deixa um país em ruínas, obrigando milhões de pessoas a sair da sua casa e da sua terra, a fim de evitarem que a morte ou contusões profundas as possam atingir.

O causador desta guerra é um antigo membro da KGB russa, polícia política de perseguição acirrada, que prendeu quem quis e temia como um perigo tudo o que divergisse das normas da ditadura do proletariado fundada por Lenine, de que ela era um pilar defensivo intocável. Será, por isso, muito lógico pensar que quem colaborou nos métodos usados por essa instituição tenha uma concepção sobre o valor democrático equivalente a zero.

Todo esse mundo de facção única e de desumanidade para quem não estivesse de acordo com o sistema político soviético parecia ter morrido por fadiga há alguns anos atrás. Dá ideia que ressuscitou e quer voltar ao mundo que criou de uma maneira definitiva, na pessoa do dirigente russo actual e, certamente, dos sequazes que o acompanham respeitosamente nas suas ideias de poder absoluto e impiedoso.

A atitude de um chefe que recorre à guerra para resolver um assunto que o inquieta revela, da sua parte, pouca consideração sobre o ser humano. Pode afirmar que não se trata efectivamente de uma guerra, mas apenas de uma “operação especial”. No entanto, há dois meses que ela dura. E a ideia de que o que a Rússia está fazendo visa “desnazificar” um país vizinho lembra as irrupções do chefe alemão dos nazis , o famigerado Adolfo Hitler, que cultivou o seu ímpeto pela guerra, destruindo à sua volta tudo o que se lhe opusesse. Custou-lhe caro, porque apenas conseguiu fazer da Alemanha uma terra em ruínas, além de ter destruído nos países que invadiu muitas vidas e muitas terras, que ficaram na miséria.

Certamente que temos de ter sentido crítico em relação ao que nos fornece nos seus noticiários a comunicação social. O russos sempre se apresentam como soldados compreensivos e desejosos de não deixar a população invadida com más recordações. Os factos bélicos que nos põem à consideração visam sempre alvos militares inimigos, com o sentido de os enfraquecer e de tonar mais rápida a finalização da sua ”operação especial”. Reconhecem que, até há pouco, o número dos seus militares mortes, andava perto dos 1500. E se têm destruído linhas férreas e estações, a finalidade é de enfraquecer a capacidade dos ucranianos para transportarem neste meio de comunicação os artefactos militares das suas tropas. Já do lado ucraniano o cenário é bem diferente. A quantidade de soldados inimigos vítimas desta guerra ultrapassa os 18.000. E o que os jornalistas nos fornecem são cidades destruídas, mortos inocentes entre a sua população - incluindo crianças -, enfim, uma hecatombe material, que só não dá tudo como perdido, em virtude de as suas forças armadas serem vigorosas e patrióticas, porque acreditam que, apesar da superioridade bélica do opositor, a razão está do seu lado e lutam por uma causa justíssima contra um exército usurpador, que merece uma resistência total e absoluta.

A guerra é sempre uma fraqueza do homem e, habitualmente, nasce do sentimento de superioridade de quem se julga mais poderoso, como se confirma neste conflito. É óbvio também que quem é atacado pela força tem o direito de se defender. O panorama, porém, que ela nos proporciona gera sempre um matagal de tristezas e de pesadelos.

A lei do mais forte abre a porta aos desmandos e ao flagelo de quem quer dominar e à réplica de quem sofre as suas consequências. No meio desta confusão e deste desentendimento, todos os esforços em prol da paz devem realizar-se. Ao fim e ao cabo, recordam ao homem que é um ser racional, dotado de razão, de vontade e de afectividade. No primeiro aspecto, para poder dialogar com discernimento as causas e as formas de encontrar soluções não beligerantes. No segundo, para querer com decisão alcançar o entendimento e a paz. E no terceiro, para se recordar que os caminhos a trilhar devem fundamentar-se no amor que leva ao respeito mútuo, ao respeito pelo bem estar e à afabilidade das relações entre os seres humanos, que não são animais brutos, desprovidos de meios naturais alheios à violência física para se poderem entender. Pelo contrário, a sua condição exige de si esforços sempre voluntários para descobrir formas pacíficas de compreensão e de respeito mútuo.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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3 maio 2022