Por estes dias, os meios de comunicação social, em resultado da acção do governo, dos partidos políticos e das forças sindicais vão preenchendo o espaço público com notícias sobre a Escola. Com cada um dos actores defendendo, segundo o seu ponto de vista, os interesses da classe profissional dos professores.
Centrada exclusivamente em aspectos económicos. Numa luta levada, por vezes, até à exaustão. De quando em vez, lá se fala das Famílias e dos alunos. Mas tão só, mais uma vez, na reivindicação de apoios económicos para as classes mais desfavorecidas.
Para pagar manuais escolares sempre mais caros! Sem esquecer o diverso material auxiliar de apoio ao trabalho dos alunos. E fica, assim, a educação emparedada pela economia e pelas questões do deficitque daí pode resultar.
Trata-se de uma forma muito redutora de abordar a Educação, a formação dos jovens de uma nação. Melhor dizendo, este é apenas um dos aspectos que envolve a formação das gerações futuras que nos hão-de governar, com toda a certeza.
Estamos a falar dos nosso filhos, cuja formação se entrega, ano após ano, a estranhos: é assim que todos os Pais, por mais conscientes que sejam, o fazem. Alguns, os de maiores posses económicas, refugiam-se no ensino Particular e Cooperativo, tentando aligeirar as consequências daqui resultantes. Mas nem sempre com felicidade!
Quanto aos aspectos económicos a que se restringe, de momento, a discussão em torno dos professores, talvez seja bom recordar que um dos primeiros testemunhos que a História legou para a posteridade acerca dos professores também anda enredado por aspectos económicos. Com efeito, foi com grande escândalo para os seus contemporâneos que os sofistas, na Grécia Antiga, fixaram um preço para a prestação dos seus serviços.
Aristóteles, no seu tratado Ética a Nicómaco(1164a 30) até sublinha «que os sofistas talvez sejam obrigados a pedir o pagamento adiantado porque de outro modo ninguém lhes daria dinheiro em troca dos conhecimentos que possuem».
Estes homens foram verdadeiramente os primeiros profissionais itinerantes do ensino na democracia ateniense, onde a busca do sucesso na política e nos meios forenses foi exigindo uma preparação intelectual cada mais exigente, que redundou num currículo de estudos, destinado a formar o Homem desde a sua meninice.
Sobretudo, os sofistas ensinavam a arte de persuadir, de usar a melhor argumentação, em suma, eram mestres no uso da linguagem, na retórica. E quem beneficiava profissionalmente do seu ensino, já nessa época, como hoje, claro, se mostrava relutante em reconhecer o valor destes profissionais: «pague-se ao homem o seu valor», para usar uma expressão que Aristótleles repete neste seu tratado, mas que é usada pela primeira vez pelo poeta fundacional dos gregos, Hesíodo, no seu livro Trabalhos e Dias(379).
Estes homens, os sofistas, ensinavam a vencer o adversário a qualquer preço, sem levarem em conta as questões éticas, resultando daqui a possibilidade de a oratória ser posta ao serviço das ambições pessoais.
Como tantas vezes sucedeu e como ainda hoje é perceptível. E é aqui que radica a grande questão quase sempre ignorada, por conveniência de alguns interesses esconsos: que ensinar aos nossos jovens? que valores transmitir? que História lhes legar? que método usar?
Uma das questões principais será, com toda a certeza, a de habituar os nossos jovens ao diálogo, a argumentar, a saber defender, sem medo, as suas opiniões, os seus pontos de vista. Que a par do preto e do branco há o cinzento; que ao lado do sim e do não há o talvez; que o meio termo não é dos fracos, mas dos corajosos, que são capazes de reconhecer e enaltecer as virtudes de ambos os lados e com isso construir pontes, o elo fundamental para uma sociedade dialógica.
Mas, para isso, é necessário habilitar os nossos jovens com o conhecimento: em primeiro lugar, diacrónico, ou seja, conhecer com profundidada a história pátria e das nações, a história universal; mas também conhecimento sincrónico, isto é, reflectir sobre as grandes questões da actualidade, iluminadas pelas lições do passado, para assim se projectar um futuro com mais segurança e que seja uma oportunidade de realização integral do ser humano em paz.
Em suma, torna-se urgente implementar a cultura da curiosidade, da superação das suas próprias capacidades, numa luta constante, dentro de si próprio, para a materialização de um ideal de realização plena que, necessariamente, incluirá a felicidade do próximo e, por alargamento, da comunidade onde vivemos.
Autor: António Maria Martins Melo
Do recomeço das aulas: algumas reflexões!
DM
1 setembro 2018