Todo o país, mas em especial Braga, tem-se tornado um refúgio para os nossos irmãos brasileiros, muitos deles já não só em busca de um maior rendimento e trabalho, mas de uma vida em segurança, em tranquilidade que a nossa cidade, bem como em geral o país ainda oferece.
Este el dorado terá muito a ver com a nova transversalidade e aposta da autarquia num novo paradigma de expressão além-fronteiras, assente em vários eixos interlocais e internacionais, num novo ciclo de consolidação e, simultaneamente, de expansão que geoposiciona Bracara Augusta como centro vivo e multinacional.
Não será difícil vislumbrar, nesta busca por Braga, as repercussões de iniciativas municipais de divulgação turística e empresarial, ou até a geminação de 2014 com o Rio de Janeiro; ou, mais recentemente, os acordos entre a Associação Comercial do Rio de Janeiro e a congénere de Braga.
Não podemos deixar de sublinhar a manifestação impressiva junto de nós do representante daquela associação brasileira e, também, Presidente do Trem do Corcovado, Sávio Neves, que sublinhou as belezas, segurança e até a limpeza desta cidade. Vem isto ao caso, porque fez 136 anos o trem do Corcovado! E que tem este a ver com a nossa cidade?
Aparentemente nada; na sua expressão mais funda, tudo! A realidade do trem do Corcovado entrelaça-se irmãmente – como portugueses e brasileiros, bracarenses e cariocas – com o ascensor do Bom Jesus, a montante até com o eléctrico que aí chegava.
Os pontos de contacto, identidade situacional e patrimonial com aquele (o qual é uma marca de referência no sector do transporte do Rio) são vários, aliás, sublinhados no Memorando de Entendimento de 2017 entre o Município de Braga e o Trem do Corcovado da iniciativa do, então, Deputado Municipal Manuel Beninger e que nós demos corpo no texto produzido para o efeito, também numa perspectiva mais alargada da candidatura do Santuário do Bom Jesus junto da UNESCO.
A convergência entre o ascensor e trem, assenta na posição cimeira sobre as respectivas cidades onde se situam, na riqueza religiosa, ambiental e patrimonial onde se enquadram e no primado turístico de excelência.
O trem do Corcovado encontra-se e une a cidade do Rio ao coração do Corcovado, tal qual o faz o ascensor do Bom Jesus na relação entre a cidade e Santuário do mesmo nome, ambas jóias da sua urbe; são realidades que se entrecruzam ao nível ambiental, arquitetónico, artístico, religioso e paisagístico de forma similar sendo ex libris das suas comunidades, indo muito além da circunscrição local para se expandirem nacional e internacionalmente;
é impossível imaginar uma visita à cidade de Braga sem o fazer ao Bom Jesus, como o é ao Rio sem o fazer ao Corcovado/Cristo Redentor, ambos encimados num alto montanhoso numa simbiose harmoniosa e perfeita entre monumentalidade e natureza a que se acede por uma, ainda que não exclusiva, “via de ferro” construídas na mesma década do mesmo século e do mesmo milénio;
ambos os passeios naqueles veículos são ecológicos, ambientalmente sustentáveis, atravessam floresta urbana e são exemplos, à sua escala, de preservação da natureza; ambos os locais a que estes equipamentos conduzem são imagem de fé e simpatia dos povos irmãos portugueses e brasileiros; a estrutura e colina na qual se inserem os dois transportes, fazem parte de um conjunto de excepção do ponto de vista religioso, florestal, ambiental com um notável enquadramento paisagístico;
O Bom Jesus onde o ascensor se insere e o Corcovado e seu Cristo Redentor são atracções religiosas maiores, históricas e turísticas das cidades geminadas. São estas marcas de união a potenciar.
Olvidando diferenças, todos nós temos a ganhar nesta nova onda de afecto entre os dois povos que Braga deve apanhar, voltando costas para provincianismos bacocos ou opiniões anacrónicas.
Por fim não podemos furtar-nos a deixar um desafio: porque não pensar uma nova realidade férrea que fizesse reviver o caminho do eléctrico desde a zona da Universidade/INL até ao ascensor do Bom Jesus? Quem sabe, mais tarde e como já fora, desde o centro? Como dizem os irmãos brasileiros: “seria legal”!
Autor: António Lima Martins
Do ascensor ao trem

DM
2 novembro 2018